quarta-feira, 17 de julho de 2013

POR QUE A GLOBO FAZ O QUE FAZ.

Crescer ou morrer: Roberto Marinho
Existe uma passagem no livro Dossiê Geisel – uma compilação de papeis do arquivo pessoal de Geisel – que conta muito sobre o espírito da Globo.
O governo militar – que criara a Rede Globo para receber apoio maciço na televisão – começara a ficar preocupado com o monopólio da emissora. Os militares não queriam que a emissora crescesse mais.
A Globo, por isso, não receberia novas concessões.
Roberto Marinho se insurgiu.
Numa conversa com um ministro de Geisel, registrada e depois guardada pelo ex-presidente, Roberto Marinho explicou a filosofia da Globo. Ele queria que tirassem os freios à expansão de seu negócio.
Uma empresa que não cresce declina, afirmou Marinho.
Na visão dele, a Globo teria sempre que crescer para não entrar em declínio.
Crescer a qualquer preço seria uma consequência natural do modo de ver as coisas de Roberto Marinho: ele jamais se caracterizou por escrúpulos ou magnanimidade.
Num dos episódios mais reveladores de sua vida empresarial, submeteu o concorrente quebrado Adolpho Bloch a uma espera interminável em sua antessala. Bloch precisava de dinheiro. Ao recebê-lo enfim Roberto Marinho disse: “Passar bem.”
Foi essa a maneira que ele encontrou de responder a Bloch depois de um episódio em que o direito de transmissão do Carnaval do Rio fora dado à Manchete.
Seus herdeiros – Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto – são continuações e extensões do pai.
Isso significou que, morto Roberto Marinho, as coisas continuaram essencialmente do mesmo jeito na Globo.
Ou crescemos ou estamos fritos.
Se você acredita nisso, tende a tomar grandes riscos para o avanço ininterrupto.
Se os riscos parecem protegidos por um esquema que garanta, ou quase garanta, impunidade, você num certo momento já não enxerga limites.
O espetacular caso da trapaça fiscal para não pagar os impostos relativos à compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002 se encaixa aí.
Por que não fazer algo que evitaria o pagamento de milhões de reais? A Receita poderia pegar? Difícil: quem quer encrenca com a Globo?
E se uma eventual disputa fosse parar na Justiça?
Ora, a Globo tem excelentes conexões na Justiça. O mais novo integrante do Supremo, Luiz Roberto Barroso, era advogado da organização de lobby da Globo, a Abert.
Num artigo publicado no Globo, Barroso defendeu a reserva de mercado para a mídia brasileira com argumentos engraçados.
Num deles, dizia que seria arriscado uma emissora estrangeira – chinesa, suponho – fazer propaganda, no Brasil, da ideologia de Mao Tsetung.
Em outro, classificava as novelas de patrimônio cultural brasileiro. Não poderíamos arriscar perder esse patrimônio, segundo Barroso.
As relações são sempre renovadas. Recentemente, a Globo empregou o filho de Joaquim Barbosa. Algum tempo antes, como revelou o Diário, JB pagara – quer dizer o erário pagara – as despesas de viagem de uma jornalista do Globo para cobrir uma palestra insignificante sua na Costa Rica.
Uma das vozes mais estridentes em defesa dos interesses dos Marinhos – Merval Pereira – desfilou várias vezes com Ayres Brito, recém-aposentado do Supremo.
O magistrado escreveu o prefácio de um livro de Merval sobre o Mensalão. Na luz do sol. Isso quer dizer que, com o passar dos anos e com a consolidação da impunidade, você já não enxerga coisas como a abjeção de relações promíscuas. Merval e Ayres Brito sorriram para as câmaras como se a aliança entre ambos fosse natural.

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