terça-feira, 22 de novembro de 2011

SALVE A POESIA.

Poesia é louca e livre, louca porque livre, liberta no exercício da sua loucura que vislumbra beleza onde outros só veem cinza e rotineiro cotidiano. Poesia vem do grego poíesis, que significa ‘ação de fazer algo’. Poesia, portanto, é práxis, apesar de ser a mais gratuita das práxis. Entre as suas inúmeras definições, o Aurélio nos fornece uma que nos interessa de perto: entusiasmo criador, inspiração.
Para que possa abranger essas e outras obras verbais, é útil considerar a poesia arte verbal e inspirada. O poeta, artesão das palavras, receptor e tradutor da inspiração, deixa em aberto a questão sobre se a linguagem é escrita ou falada e derrama pelo mundo a identidade mais profunda da realidade e das coisas feita verso, ritmo, imagem e som.

Sendo arte, no entanto, a poesia não é distante da vida. Pois na verdade, a emula, a imita, a mimetiza criativamente. A poesia é um meio de reproduzir ou recriar em palavras as experiências da vida, tal como a pintura reproduz ou recria certas figuras ou cenas da vida em contornos e cores.
Porém, ao mesmo tempo em que imita a vida, a poesia a reinterpreta e recria. Na poesia, a matéria-prima, que é o ser humano, a vida sobre a face da terra, é remodelada e recriada até ser transformada na obra poética, em versos e palavras, que se alternam e expressam o que o coração sente e o que faz o espírito vibrar.
Salve a poesia! Salve que de ti temos necessidade... e muita! De ti vivemos e sem ti apenas sobrevivemos. O trabalho sem ti é escravidão. A religião sem ti é conjunto de normas e definições que não consegue mover os corações humanos. Na gratuidade dos versos do poeta, inspirado e possuído pela musa, é o próprio Criador que penetra em sua criação dando-lhe flexibilidade e sopro e fazendo acontecer no mundo o milagre do amor. A poesia pode salvar-nos... desde que não nos deixemos sufocar por sua ausência e desde que não a consideremos inutilidade ineficaz que para nada serve a não ser para ser inapelavelmente descartada. Pois, como diz Adélia Prado:

A poesia me salvará....
Não falo aos quatro ventos
porque temo os doutores, a excomunhão
e o escândalo dos fracos. A Deus não temo.
Que outra coisa ela é senão Sua Face atingida
da brutalidade das coisas




Nenhum comentário:

Postar um comentário