quarta-feira, 2 de novembro de 2011

LULA, O CANCÊR E OS 99%

O mineiro só é solidário no câncer, escreveu Nelson Rodrigues.

E o brasileiro? Me ocorre essa questão ao saber que Lula está com câncer na laringe. Quantos brasileiros não estão secretamente — ou não tão secretamente assim – felizes com a desgraça de Lula? Milhares, talvez milhões.
Mas a razão dessa alegria na dificuldade alheia conta muito sobre quem a tem e sobre quem é alvo dela.
Gostar de ver Lula sofrendo é um exemplo portentoso de miséria de caráter. Lula é, para uma parcela da sociedade brasileira, o “ignorante que chegou lá”, o homem que defendeu sempre o interesse dos desprezados, dos historicamente humilhados e ofendidos. O barbudo que, para usar a linguagem moderna, se alinhou desde o início de sua jornada de sindicalista com os “99%”.
Piadas partidas desse grupo já se multiplicam na internet.
O extraordinário paradoxo, aí, é que o “1%” deveria ser grato a Lula por seu pragmatismo, por seu bom senso, por sua capacidade em administrar as alas mais radicais do PT.
A torcida contra Lula diz muito sobre ele próprio, também. Lula foi o primeiro presidente brasileiro a colocar claramente os “99%” no topo da agenda presidencial. Isso se expressou em programas sociais ferozmente combatidos pelo “1%”, a começar pelo Bolsa Família. Mas ali, naqueles programas, estava, mais que algum dinheiro para quem não tem dinha nada, uma mensagem: o Brasil jamais será um país satisfatório enquanto abrigar tanta pobreza e tanta desigualdade. Era óbvio isso, mas nenhum outro presidente viu o quadro tão cristalinamente — e agiu para modificá-lo.
A mensagem foi claramente entendida pelos “99%”, que retribuíram com a maciça aprovação a Lula depois de dois mandatos e, posteriormente, com a eleição de Dilma, a candidata apontada por ele.
São esses “99%” que estarão o tempo inteiro com Lula nos dias duros que ele enfrentará nos próximos meses – e ele não poderia estar em melhor companhia

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