terça-feira, 22 de novembro de 2011

A ESPIRITUALIDADE DO DIA A DIA.

Buscar o caminho que leva ao céu, no meio das encruzilhadas do mundo, foi sempre uma preocupação da humanidade. A partir do século IV, muitos dirigiram-se ao deserto com a finalidade de amar e servir a Deus. O deserto é um território sem sombras, inundado pela luz, e não tem o falso brilho das cidades e suas tentações. Lá Deus se apresenta em toda a sua grandeza. Em meio ao jejum, à penitência e à oração, muitos viveram e morreram no deserto. Ao redor deles surgiram fatos e lendas agrupados no tema Padres do Deserto.

Padre Macário, o Grande, no século IV, foi um deles. Num certo dia estava em oração e uma voz, em forma de provocação, afirmou: Macário, rezas tanto, fazes tanta penitência, mas estás longe da perfeição de duas mulheres, que residem na aldeia mais próxima! No dia seguinte, perturbado, Macário foi à procura das duas mulheres. Acabou por encontrá-las e quis saber o que de tão extraordinário faziam diante de Deus. Nada de especial, revelaram as mulheres, nesta noite, estivemos com os maridos. O que mais poderíamos fazer? Macário insistiu: o que vocês fazem durante o dia? Elas explicaram: aquilo que todas fazem. Levantamos cedo, preparamos a refeição para a família, buscamos água na fonte, amassamos o pão, varremos a casa...
Macário continuava sem entender. Elas explicaram que haviam casado com dois irmãos e moravam na mesma casa. Com os filhos. Teriam gostado de entrar no convento, mas os maridos não quiseram. Já viviam assim cerca de 15 anos e nunca disseram uma à outra uma palavra má e viviam em concórdia, prestando com alegria os serviços solicitados. Tinham pouco tempo para rezar, então louvavam a Deus, enquanto desempenhavam os serviços domésticos.
Santidade não consiste em fazer coisas extraordinárias, mas fazer bem as coisas ordinárias de cada dia. É a espiritualidade do cotidiano. Uma vez por semana vamos à igreja e não podemos contentar-nos com isso. Nossos lares também devem ser pequenas igrejas. É através das frestas do cotidiano que vemos a Deus.
Jesus deu o exemplo. Passou grande parte da vida na oficina de José. Ali cresceu sua sabedoria, que espantou os judeus quando começou a anunciar o Reino. E na vida pública, Ele nunca recusou convites para almoçar. Suas pregações envolviam o cotidiano: a mulher que perdeu uma moeda, o pescador que nada pescou, a ovelha perdida e encontrada, os pardais, os lírios do campo.
Um dia perguntaram-lhe: qual o caminho para o céu? Ele ignorou as milhares de leis e indicou o grande mandamento: amar a Deus e amar o próximo. Mais tarde, o apóstolo Paulo, após enumerar atos de heroísmo, diria: “Se não tiver amor, isto nada me adianta” (1Cor 13,2). A caridade é o caminho para o céu para as duas mulheres, para Macário, para o Papa e para todas as pessoas.





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