terça-feira, 15 de novembro de 2011

O PIOR QUE PODE ACONTECER É A PESSOA ENGANAR A SI MESMA

Um burro encontrou a pele de um leão que um caçador tinha abandonado na floresta. Achou interessante, levou-a consigo e imaginou uma brincadeira. Vestiu a pele e colocou-se atrás de uma moita e pulava quando um animal passava perto. Todos fugiam assustados. Ele gostou da brincadeira e, aos poucos, foi se convencendo que era o rei da floresta.
Um dia passou perto de seu esconderijo um grupo de animais. Diante do pretenso leão, todos fugiram. O burro não se conteve e celebrou o feito com um sonoro zurro. A raposa, que estava fugindo com os outros animais, voltou e lhe disse: se você tivesse calado a boca, eu também estaria assustada, mas o zurro revelou quem realmente você é, nada mais, nada menos que um burro.
A fábula é bem antiga e foi criada pelo grego Esopo 500 anos antes de Cristo. Mesmo assim continua atual. As aparências podem enganar. O rótulo pode ser vistoso, mas não altera o conteúdo. A pele de um leão não transforma o burro. Cedo ou tarde, a máscara cai e a realidade aparece. Esopo era muito inteligente e retratava posturas humanas. Muitas vezes a vaidade se aproxima do ridículo.
Um dos componentes da personalidade é a autoimagem. Há pessoas com uma autoimagem baixa e se consideram inferiores aos outros. O contrário também acontece: indivíduos com uma autoimagem inflacionada e por isso se consideram superiores aos demais, com direito a dar a última palavra em todas as coisas. Mais uma vez, a virtude está no meio termo. Cada pessoa tem qualidades e limitações. Essa realidade precisa ser levada em conta. Os outros têm seus próprios critérios de avaliação. E sempre pode aparecer alguém para colocar as coisas em seu devido lugar. O contrário também acontece. Há uma fábula que conta a história de um lobo que vestiu a pele da ovelha. Nem por isso deixou de ser lobo, como o burro não deixou de ser o que era pelo fato de vestir a vistosa pele do leão. A primeira impressão pode enganar, mas a verdade acaba por aparecer. Muitos desajustes psicológicos surgem destas duas personalidades: a real e a aparente. A sabedoria popular lembra que alguém pode enganar a todos por um momento, pode enganar a alguns o tempo todo, mas não pode enganar a todos o tempo todo.
O pior que pode acontecer é a pessoa enganar a si mesma. De tanto fingir para os outros, ela mesma embarca na mentira. Até o momento que o burro foi discreto, a peça funcionava, mas quando a autossuficiência chegou, e ele começou a zurrar, tudo ficou esclarecido.
O importante é assumir nossa realidade, com virtudes e defeitos, com qualidade e deficiências. Em alguns pontos, somos superiores aos demais, em outros pontos somos iguais aos outros e, finalmente, em alguns pontos somos inferiores a eles. O chão da realidade é o ponto de partida. O Evangelho lembra: a verdade vos libertará (Jo 8,32).

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