quarta-feira, 1 de agosto de 2012

NESTE CAMINHO SO PASSAREI UMA VEZ



Nem todas as sementes lançadas nascerão, mas algumas ajudarão a compor a primavera futura

O velho ônibus fazia, todos os dias, a viagem entre duas cidades. Os passageiros quase sempre os mesmos. Uma senhora lia a Bíblia, um jovem escutava música; ao lado dele um senhor tentava completar um quadro de palavras cruzadas e algumas crianças faziam algazarra. Quando as casas iam rareando, uma velha senhora, roupas simples, lenço na cabeça, entrava no ônibus. Sentava no primeiro banco, abria uma bolsa, tirava um pacotinho e passava a viagem jogando alguma coisa pela janela.
Um militar, já idoso, quis saber o que ela jogava pela janela. Jogo sementes, respondeu ela. A paisagem é tão triste, gostaria que ela ficasse mais bonita. Mas estas sementes não vão vingar, disse o militar. A terra é árida, cheia de pedras e espinhos, as sementes podem ser pisadas, sem falar nos passarinhos e pequenos animais roedores. Isto é verdade, concordou a velhinha, mas certamente algumas sementes irão germinar.
O militar ficou algum tempo longe da cidade. Quando voltou a viajar notou que a velhinha não estava no seu lugar. O motorista informou laconicamente: ela morreu. Mas a paisagem não era mais a mesma.
Aqui e ali apareciam algumas flores isoladas e, mais adiante, verdadeiras ilhas floridas. Na desordem harmoniosa que só a natureza sabe fazer, flores de todos os tamanhos, formas e cores eram balançadas pela brisa. Também era possível perceber a presença de pássaros e borboletas participando da festa da natureza.
A velhinha não chegou a ver as flores por ela semeadas. Não importa, mas agora os passageiros, sobretudo as crianças, olhavam, com satisfação, a paisagem florida. Ela não passara inutilmente por aquele caminho. Deixara uma herança de ternura e beleza para todos os que passassem por ali. Passada a primavera, quando o inverno se aproximava do fim, as crianças começaram a disputar as primeiras janelas e jogavam sementes, como viram a velhinha fazer.
A vida é uma grande caminhada. Porque nós passaremos uma única vez por este caminho, é importante que deixemos alguns sinais de nossa passagem. Podemos e devemos semear flores, semear ternura, semear amor... Nem todas essas sementes germinarão, mas algumas ajudarão a compor a primavera futura.
O Evangelho nos fala do semeador que saiu a semear. Não ignorou as dificuldades, mas sempre existiu a terra boa que acolheu a semente. E uma semente que germina compensa cem que se perderam.

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