Não existe povo que não tenha festas. Elas retratam uma cultura e também os
ideais de um povo.
Há algum tempo ouvi o comentário de um palestrante dizendo
que a festa seria um fenômeno em extinção, assim como a religião. A evolução
científica e técnica, o espírito de produção e desenvolvimento haveriam de
ocupar e encantar tanto que não se teria mais tempo nem desejo de fazer festa.
Como a festa faz parte da dimensão gratuita da vida, seria tempo perdido
investir numa atividade não lucrativa.
Esta previsão do palestrante não
parece ser verdadeira. Ao contrário, a dimensão festiva da vida e da convivência
volta, com toda força, a ganhar atualidade como reação à frieza das relações
humanas e o descaso das relações primárias, como meio de libertação da
escravidão do trabalho e como busca de caminhos de liberdade. Tem-se necessidade
de oxigenar o cotidiano com momentos especiais, com possibilidades de rir e
falar de coração a coração e brindar a vida com sua beleza.
Uma das
realidades que vai tirando o brilho da vida é a rotina. E a rotina vai matando
as melhores aspirações de uma pessoa. A monotonia do trabalho também oprime
quando não permeada pela experiência da festa. Uma das justas e principais
motivações da festa vem da possibilidade do descanso entre as tarefas
cotidianas. A festa traz consigo uma mudança de atividade e de horizonte.
A
Bíblia salienta a necessidade da festa para humanizar a vida das pessoas. O
descanso serve de alívio e estímulo para retomar o trabalho com novo entusiasmo
e eficácia. No pensamento bíblico, a festa não é só uma
parada no trabalho e uma ocasião de descanso. A festa é também exultação e
alegria por ser uma experiência de amplidão da vida, de um novo sabor, causando
ânimo e entusiasmo.
Assim eram as festas primitivas das colheitas e das
primícias dos rebanhos. É claro que a Bíblia não deixa de acenar para os perigos
que surgiam dos cultos dos pagãos, onde os exageros da bebida e outros abusos
danificavam a vida. O pecado de Israel se relaciona
com as celebrações
destes bacanais.
O povo de Deus viveu num tempo marcado
pelo caráter agrícola e cultivou festas próprias desta cultura. No entanto,
verdadeiro culto ao Deus Javé deu um sentido novo e profundo ligado à história
da salvação. Assim, a vivência das festas religiosas representa para o povo de
Israel a memória dos prodígios de Deus que continuam se fazendo presentes. Aqui
a festa resume toda a história da salvação. Não há povo sem festa! A vida merece
respirar a experiência da gratuidade e da beleza.
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