quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O REGRESSO DO PAÍS DA SOLIDÃO.

Filha única, cresceu em meio ao carinho dos pais numa pequena aldeia, à margem de uma ferrovia. Nada lhe faltou: ternura, presentes, diálogo... A vida era uma festa. Na adolescência começaram a surgir desentendimentos, que foram se aprofundando. Além do mais, a vida era marcada pela monotonia, quebrada apenas pela passagem diária do trem. Num dia qualquer, o mundo desabou quando os pais encontraram um bilhete sobre a mesa: “Gostaria que vocês não me procurassem. Por favor, me esqueçam! Decidi ser feliz”. E com a filha desapareceu a alegria daquele lar.
Ficou nove anos sem informar seu endereço, sem escrever uma única linha. Mas aos poucos as ilusões foram se desfazendo e surgiu uma ponta de saudade. Ela não voltaria atrás. Mas a saudade crescia à medida que o Natal se aproximava. Ela acabou não resistindo e escreveu um novo bilhete para os pais.
“Papai, mamãe, vocês se lembram de quando eu pulava do trem naquela subida em curva, ao lado de nossa casa, quando o trem se aproximava da estação? Não sei se vocês estão vivos, não sei se haverá perdão para mim... Por favor, se vocês me aceitam novamente em casa, amarrem um pano branco em um dos galhos da velha pereira ao pé da casa. Assim eu poderei saber, da janela do trem, se há perdão para mim”.
Na véspera do Natal, a jovem tomou o trem de volta para o futuro. Ao longo da viagem rememorou sua história e seus erros. Os pais teriam recebido a carta, estariam vivos e dispostos a perdoá-la? O seu futuro e a sua felicidade se desenhariam dentro de uma hora. Caso não houvesse um pano branco na pereira, continuaria seu caminho sem rumo e sem sentido, para o vazio. O coração batia cada vez mais forte à medida que as velhas paisagens surgiam à margem da rodovia. E na última curva, antes da estação, a casa paterna era perfeitamente visível. A pereira ainda existiria?
A pereira ainda existia e, em seus galhos não um pano branco, mas centenas de panos brancos, acenando para seu retorno. Ela pulou e, poucos metros depois, caiu nos braços de seus pais, um pouco mais envelhecidos. E as lágrimas misturaram-se, purificando o passado. Havia lugar para ela em seus corações. E na casa, uma mesa com toalha branca, preparada para a festa e nessa mesa o seu lugar. O paraíso havia sido reencontrado.
É uma versão moderna da história contada por Lucas - capítulo 15 - envolvendo um filho pródigo e um pai amoroso. É a promessa maravilhosa contida em cada Natal. Deus não se cansou da humanidade. Ele espera ansioso cada filho no regresso do país da solidão. O amor de Deus não volta atrás. Aguarda seu retorno para o sufocar em abraços e preparar para ele a festa da felicidade. Porque a filha e o filho, que estavam perdidos, retornaram, acontece o Natal.

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