terça-feira, 12 de novembro de 2013

A HISTÓRIA DA SUSTENTABILIDADE TEM QUASE 3 SÉCULOS

A categoria sustentabilidade é central para a cosmovisão ecológica e, possivelmente, constitui um dos fundamentos do novo paradigma civilizatório que procura harmonizar ser humano, desenvolvimento e Terra entendida como Gaia. Comumente a sustentabilidade vem acoplada ao desenvolvimento. Oficialmente, o conceito ‘desenvolvimento sustentável’ foi usado pela primeira vez na Assembléia Geral das Nações Unidas de 1979. Foi assumido pelos governos e pelos organismos multilaterais a partir de 1987, quando, depois de quase mil dias de reuniões de especialistas convocados pela ONU sob a coordenação da primeira ministra da Noruega, Gro Brundland, se publicou o documento Nosso Futuro Comum. É lá que aparece a definição tornada clássica: “Sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Na verdade, o conceito possui uma pré-história de quase três séculos. Ele surgiu da percepção da escassez. As potências coloniais e industriais européias desflorestaram vastamente seus territórios para alimentar com lenha a incipiente produção industrial e a construção de seus navios com os quais transportavam suas mercadorias e submetiam militarmente grande parte dos povos da Terra. Então surgiu a questão: como administrar a escassez? Carl von Carlowitz respondeu, em 1713, com um tratado que vinha com o título latino de Sylvicultura Oeconomica. Aí ele usou a expressão nachhaltendes wirtschaften, que traduzido significa: administração sustentável. Os ingleses traduziram por sustainable yield, que quer dizer produção sustentável.
De imediato surgiu a questão, válida até os dias de hoje: como produzir sustentavelmente? Apresentavam-se para o autor quatro estratégias. A primeira era ‘política’: cabe ao poder público e não às empresas e aos consumidores regular a produção e o consumo e assim garantir a sustentabilidade em função do bem comum. A segunda era a ‘colonial’: para resolver a carência de sustentabilidade nacional impunha-se buscar os recursos faltantes fora, conquistando e colonizando outros países e povos. A terceira era a ‘liberal’: o mercado aberto e o livre comércio vão regular a demanda e o consumo, resultando então a sustentabilidade que será melhor assegurada se for apoiada por unidades de produção nos países onde há abundância de recursos necessários para a produção. A quarta era ‘técnica’: para superar a escassez e garantir a sustentabilidade buscar-se-á a inovação tecnológica ou a substituição dos recursos escassos: em vez de madeira usar carvão e, mais tarde, em vez de carvão, o petróleo.
Hoje, com a distância temporal, podemos dizer: se houvesse triunfado a estratégia política em razão do bem comum, a história econômica e social do Ocidente e do mundo teria seguido o caminho da sustentabilidade. Haveria seguramente mais eqüidade (os custos e os benefícios seriam mais igualmente distribuídos), viver-se-ia melhor com menos e haveria mais preservação dos ecossistemas.
Mas não foi este o caminho escolhido. Foi o do colonialismo, do imperialismo, do globalismo econômico-financeiro e da economia política de mercado que gerou a grande transformação (Polanyi) com a mercantilização de todas as coisas e o submetimento da política e da ética à economia. A crise ecológica atual deriva deste percurso que, mantido, poderá ameaçar o futuro da vida humana. Agora é tempo de revisões e de buscas de alternativas paradigmáticas.

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