segunda-feira, 26 de setembro de 2011

VOCÊ ESTÁ COMIGO, OU CONTRA MIM?

Vale a pena lembrar que o capitalismo foi “civilizado” graças à incansável pressão de incansáveis, resolutos movimentos da classe trabalhadora e a sempre presente ameaça de greves e, até, de revoluções. A existência do bloco soviético, modelo alternativo de desenvolvimento econômico (embora distorcido), também ajudou. Para apresentar-se como contraponto à URSS, os grupos dominantes em Washington e na Europa tiveram de comprar o apoio de suas massas, defendendo o que ninguém jamais se envergonhou de chamar de “o modo de vida ocidental”. Forjou-se complexo contrato social, que implicou o capital fazer concessões.
Agora, acabou. Já nada é assim em Washington, o que é óbvio. E cada vez menos é assim tampouco na Europa. Aquele sistema começou a fazer água – isso, sim, é total triunfo de uma ideologia! –quando o neoliberalismo tornou-se único sucesso da cidade. Abriu-se uma supervia expressa que partia diretamente dali, e levou todas as tendências mais frágeis da classe média diretamente para a situação de novo proletariado pós-industrial, ou, simplesmente, para o status de inempregáveis.
Se o neoliberalismo parece ainda vitorioso, é porque não há modelo realista, alternativo, de desenvolvimento. E, mesmo assim, o que o neoliberalismo possa ter ganho é muito discutível. Simultaneamente, os progressistas do mundo estão paralisados, como que esperando que a velha ordem derreta, ela mesma. Infelizmente, a história ensina que, como em encruzilhadas semelhantes no passado, o mais provável é que, à frente, se encontrem as vinhas da ira, ao estilo populista de direita, como tudo – ou, ainda pior, declarado fascismo.
“O ocidente contra o resto” é fórmula simplista que não basta nem para começar a descrever esse mundo. Imagine-se, em vez disso, um planeta no qual “o resto” tente ultrapassar o ocidente por várias vias, mas já absorveu o ocidente de vários modos ainda não descritos porque profundos demais. Aí está a ironia: sim, o ocidente “declinará”, Washington inclusive, e, mesmo assim, deixará ocidente por todos os cantos.

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