domingo, 11 de setembro de 2011

JORNALISTA E JORNALISMO, DE QUE LADO ESTÃO

Quase todo jornalista sente o seu ego inflar quando é apresentado em público como uma pessoa que está por dentro das coisas. Quando se trata de política, futebol e economia, é o especialista que sabe o que pensa e o quer o político, o cartola e o banqueiro. Um profissional nessas condições é chamado pelos norte-americanos de insider e goza de muito prestígio porque é quem supostamente sabe de coisas que os vis mortais ignoram.

O problema é que a própria definição de insider coloca o profissional num dos lados da informação, o lado de quem tem poder, de quem pode gerar notícias e influenciar a agenda pública. Mas este é o lado certo do jornalista? Se formos seguir os manuais, a resposta provavelmente será negativa, porque a função do jornalista é buscar, conferir, editar e publicar informações que permitam ao cidadão ter uma vida digna e inserir-se no convívio social.
Estamos, portanto, diante de um paradoxo. Para cumprir suas funções o jornalista deveria ter como preocupação principal “estar por dentro” do que pensa e quer o cidadão. Os tomadores de decisões também são cidadãos, mas não são eles que compõem a grande massa da população, que é quem vota e precisa de informações para poder participar na definição dos rumos de uma sociedade.
Mas a rotina das redações empurra os jornalistas na direção contrária. Eles, de maneira geral, acabam consultando mais o político, o empresário e o cartola do que as pessoas que compram jornal e, em última análise, pagam os salários da Redação. O paradoxo, por sua vez, alimenta um equivoco: o jornalista está se identificando com o lado errado da noticia.
Mas este não é o único problema na definição do papel do jornalista e do jornalismo na realidade contemporânea. A dinâmica da indústria dos jornais e da televisão torna compulsória da busca de audiências cada vez maiores, o que obriga os veículos de comunicação a serem cada vez mais generalistas, oferecendo um produto informativo padronizado para públicos diversos.
Muitos jornalistas e insiders afirmam, com alguma razão, que precisam seguir as regras do jogo para poder informar sobre política ou economia. A questão é que a convivência prolongada com o poder acabou desenvolvendo tendência à síndrome de Estocolmo[1]na maioria dos repórteres políticos. A convivência com os políticos, economistas e empresários acabou criando uma cumplicidade que hoje é responsável por grande parte do viés equivocado no noticiário, especialmente no político, econômico, policial e até no esportivo.

[1]Síndrome de Estocolmo é uma expressão surgida após um longo sequestro num banco de Estocolmo, na Suécia, em 1973, quando os reféns desenvolveram uma atitude simpática em relação aos sequestradores.

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