segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O PRÍNCIPE, O FILÓSOFO E O POETA.

13.10.10_Izaías Almada_O principe_o filósofo e o poeta

O velho me olhou por detrás das lentes grossas de seus óculos, que revelavam dois olhinhos inquietos e percucientes, e disparou numa voz firme e convincente:

– Estão criticando o que se passa em nossa democracia…

– E quem são eles? Arrisquei.

– O senhor não sabe?

Considerei que fingir minha ignorância sobre tais celebridades pudesse me trazer sua opinião mais sincera, mesmo que apaixonada.

– Não, confesso que não os conheço ou, pelo menos, não conheço o que pensam.

– Ali estão um príncipe, um filósofo e um poeta, respondeu o velho senhor orgulhoso em mostrar seus conhecimentos. E vou responder em poucas palavras a sua pergunta:

– O príncipe é um senhor que conseguiu entrar para a Academia de Letras depois de pedir a todos nós que esquecêssemos o que ele escreveu, entendeu o paradoxo? Pertence a um partido político onde a honestidade está em baixa e, tal qual todo bom oportunista, resolveu puxar a brasa de uma moralidade até agora desconhecida da tal senhora que teve alguns milhões de votos na última eleição presidencial para tentar dar um respiro ao seu partido em frangalhos…

– Hum, balbuciei segurando o riso.

– O filósofo, continuou, não se sabe muito bem o que ele pensa, mas encheu-se de brios para criticar um caso de suposta corrupção ainda não esclarecido pedindo o enforcamento dos réus, sem nomeá-los, nas tripas uns dos outros, requentando uma velha e surrada expressão dos iluministas franceses que gostariam de ver o último rei enforcado nas tripas do último padre. E veja que ele, inconscientemente, usa a expressão de um general da nossa ditadura sobre abertura ampla, geral e irrestrita. Um ato falho, talvez, ou coisas de uma nova esquerda à qual ele julga pertencer…

– Com uma esquerda assim, não é preciso direita, concorda?

– O velho senhor encarou-me sem fazer qualquer comentário.

– E o poeta?

– Bem, o poeta queria saber, tal qual o filósofo, porque a suprema corte de justiça do país se acovardou numa de suas últimas decisões e, segundo, ele, esquivou-se de punir o mais rápido possível, mesmo sem provas, os tais cidadãos que merecem ser enforcados nas tripas uns dos outros… O curioso é que esse mesmo poeta disse estar arrependido de ter sido comunista um dia e que se converteu à democracia. Supõe-se que ele ainda faz parte daquele grupo de pessoas que identificam democracia com capitalismo e ditadura com socialismo… Se estiver arrependido de seus pecados deveria se confessar a um padre, não acha?

Ato contínuo, o velho senhor escafedeu-se…


Fiquei pensando se não tinha conversado por cinco minutos com o desconhecido Stanley Burburinho.

PS: Aviso a alguns poucos comentários escritos com o fígado. Em política só acerta quem erra, pois é a prática que vai enriquecendo o aprendizado. Como dizia o poeta espanhol, o caminho se faz caminhando. Ou ainda, como diz o grande filósofo do STF, Luiz Fux, “A verdade é uma quimera”.

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