segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O ABRAÇO DE DEUS.

Era uma vez uma mulher que ambicionava ver a Deus, face a face, e Dele receber um abraço. Em sua ótica merecia isso. Era muito piedosa, rezava muito e rezava - a pedido - pelos que não tinham tempo para Deus. Numa noite, em sonhos, ficou sabendo que poderia satisfazer seu desejo. Ficaram acertados a data e o local, o alto de uma montanha. Ela aproveitou os dias que lhe restavam, antes da entrevista, para aumentar o tempo e o número de suas orações. Naturalmente não queria apresentar-se de mãos vazias e, por isso, comprou um vistoso jarro, que encheu de orações, novenas e registros de muitas boas obras feitas. Ela já antecipava o sucesso do presente. E com ele o desejado abraço de Deus.
Bem cedo, no dia assinalado, a mulher começou a escalar a montanha com o jarro repleto de pedrinhas-símbolo. Chegando ao topo, uma grande decepção. Deus não estava esperando por ela. Esperou algum tempo, depois externou seu desencanto: “Senhor, onde estás? Tu me convidaste, não me decepciones!”. Foi então que ouviu uma voz vinda do alto: “Quem está lá embaixo? Por que tu te escondes de mim?”. Já animada, ela esclareceu: “Sou eu, Senhor, a mulher que te procura. Não estou escondida. E te trouxe, como presente, um lindo jarro, cheio de minhas preces e boas obras...”. E Deus esclareceu: “É por isso que não te vejo. Eu quero te abraçar, joga fora este jarro, eu quero abraçar a ti e não aquilo que fazes, nem teus presentes. Eu te quero como tu és!”.
Ver a face de Deus é um sonho milenar. Já o salmo 42 registra esse sonho. Mas esse desejo nem sempre acontece por problemas de ótica. Deus é puro espírito e por isso é invisível para nós. Mas em seu Evangelho Jesus nos mostra uma maneira muito simples de ver o rosto de Deus, de encontrar-se com Ele e trocar abraços. Diariamente podemos fazer isso e nem precisamos escalar montanhas. Na realidade, depois de subir aos céus, Jesus voltou disfarçado. Ele se esconde no rosto dos pobres, índios, negros, excluídos, crianças famintas, velhos abandonados... Ele vai mais longe. Se esconde também em rostos pouco recomendados, no rosto de prostitutas, presos, feridos à beira da estrada e no catálogo imenso de todos os não justos e marginalizados da terra.
E não se trata de um discurso ideológico, buscado na luta de classes de Marx, nem inventado pela Teologia da Libertação. Está no Evangelho e se constitui no vestibular para ingresso no Reino. Eu tive fome, tive sede,era estrangeiro,estava nu, estive preso, doente, com frio... E você me acolheu - opção certa - ou não me acolheu.  As oraçõe e boas obras são importantes e mesmo necessárias, mas elas devem fazer parte do indissociável eixo Fé e Vida. Nosso caminho para Deus passa por Jesus, um Jesus invisível. Só pode ser visto através da mediação do rosto do próximo. E podemos jogar fora o jarro das exterioridades.

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