segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A MORTE DO CORPO É A LIBERTAÇÃO DOS LIMITES: A DOÇURA DO MORRER.

A vida e a morte se misturam. Ao mesmo tempo que andam de mãos dadas, correm para lados opostos. Viver sempre? Seria muito bom! Para isso é necessário eternizar o melhor momento da vida e nesse momento permanecer. Viver caindo aos pedaços, não! Diante do fato da morte, realista, é a prece da criança feita ao Criador: “Deus, não seria melhor deixar sempre as mesmas pessoas na terra, em vez de fazer sempre gente nova? Daria menos trabalho para você!”. Nesta pergunta se esconde, também na criança, o desejo de não morrer.
O TRÁGICO DO MORRER. Morrer criança. Morrer na juventude. Morrer na surpresa de um acidente. Morrer na violência de uma briga ou de uma guerra. Morrer destruindo-se a si mesmo. É trágico demais! Essa morte não está na lei da vida e muito menos no pensamento de Deus. A morte não está nos planos e nem no pensamento de Deus. Está apenas nos planos humanos egoístas, que rompem o ciclo da vida. A morte-surpresa é trágica para quem morre. Deixa um rastro de tristeza e de problemas em outras pessoas. Deixa choro e sonhos não realizados. É trágico para quem fica, porque a dor e a perda causam um transtorno muito grande. Por isso, o suicidar-se e o causar a morte num acidente ou num ato violento não é um ato isolado, que simplesmente passou. Traz dentro de si conseqüências, pois somos responsáveis pelo passado, pelo presente e pelo futuro problemático que deixamos. Morrer tragicamente é muito trágico!
A DOÇURA DO MORRER. Já invejei mortes. Já quis estar ali, no lugar desta pessoa morrendo. Parentes e amigos ao redor. Cantos de vida e de esperança. Rezas de serenidade. Olhos se fechando ao olhar de tantos outros olhos! Morrer aos oitenta, aos noventa anos. Morrer porque o corpo não agüenta mais a vida. A vida é muito mais que um corpo. Morrer despedindo-se e agradecendo ao corpo que serviu para comunicar a vida.
Morrer cheio de gente! Diferente da morte trágica, que é morte na solidão. Morrer escutando músicas e rezas. Morrer sem morrer. Apenas acenando um adeus. Morte de um Francisco de Assis, que pediu para ser deitado na terra, e ali deitado, rodeado de irmãos dizer: “vem, irmã morte.”
VIVER PREPARANDO A MORTE. Diz o ditado: “como se vive, se morre.” Viver é uma escolha. Morrer também é uma escolha. Aprende-se a morrer vivendo. Aprende-se a viver morrendo. Viver intensamente como se fosse o único e último momento. Morrer aos poucos pelos atos de amor que vão sendo semeados na vida, como se fossem os últimos. Como diz o poeta: “morrer de amor.”
LIBERTANDO A VIDA. É um corpo que fica, como um dia, em nosso nascimento, uma placenta com seu útero ficou no mundo do passado. Houve um nascimento para uma nova vida. A mesma vida. A morte é a libertação de uma outra placenta, que é o corpo, que é o mundo material, para viver a liberdade em plenitude. O corpo é sagrado e é um instrumento para a comunicação da vida. Ao mesmo tempo é um limite. A morte do corpo é a libertação dos limites. A vida, num corpo glorioso e vitorioso, ressuscitado e imortal, não terá mais nem espaço e nem tempo. Todos serão tudo em todos. Quer dizer, aqueles que fizeram a escolha da vida. Para aqueles que escolheram a doçura da morte
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