sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A ARTE DE CUIDAR DOS ENFERMOS

O cuidado, mais que uma técnica ou uma virtude, representa uma arte e um paradigma novo de relação para com a natureza e com as relações humanas, amoroso, diligente e participativo. Retomo aqui algumas ideias referentes às atitudes que devem estar presentes em quem cuida de enfermos, em casa ou no hospital.
Compaixão: é a capacidade de colocar-se no lugar do outro e sentir com ele. Não dar-lhe a impressão que está só e entregue à sua própria dor.
Toque da carícia essencial: tocar o outro é devolver-lhe a certeza de que pertence à nossa humanidade. O toque da carícia é uma manifestação de amor. Muitas vezes, a doença é um sinal de que o paciente quer se comunicar, falar e ser ouvido. Quer identificar um sentido na doença. O cuidador pode ajudá-lo a se abrir e a falar.
Assistência judiciosa: o paciente precisa de ajuda e a cuidadora(o) deseja cuidar. Essa convergência gera a reciprocidade e a superação do sentimento de uma relação desigual. A assistência deve ser judiciosa: tudo o que o paciente pode fazer, incentivá-lo a fazer; e assisti-lo somente quando já não o pode fazer por si mesmo.
Devolver-lhe a confiança na vida: o que o paciente mais deseja é recuperar a saúde. Daí ser decisivo devolver-lhe a confiança na vida: em suas energias interiores, físicas, psíquicas e espirituais. Incentivar gestos simbólicos, carregados de afeto. Não raro, os desenhos que a filhinha traz para o pai doente suscitam nele tanta energia e comoção que equivale a um coquetel de vitaminas.
Fazê-lo acolher a condição humana. Normalmente o paciente se interroga perplexo: “Por que isso foi acontecer comigo, exatamente agora em que tudo na vida estava dando certo? ” Tal questonamento remete a uma reflexão humilde sobre a condition humaine que é, em todo o momento, exposta a riscos e a vulnerabilidades inesperadas.
Quem é sadio sempre pode ficar doente. E toda doença remete à saúde, que é o valor de referência maior. Mas não conseguimos saltar por cima de nossa sombra e não há como não acolher a vida assim como é: sadia e enferma, bem-sucedida e fragilizada, ardendo por vida e tendo que aceitar eventuais doenças e, no limite, a própria morte. É nestes momentos em que os pacientes fazem profundas revisões de vida. Não se contentam apenas com as explicações científicas (sempre necessárias), dadas pelo corpo médico, mas anseiam por um sentido que surge a partir de um diálogo profundo com seu Self ou da palavra sábia de um parente, de um sacerdote... Resgatam, então, valores cotidianos que antes sequer percebiam, redefinem seu desenho de vida e amadurecem. E acabam tendo paz.
Acompanhá-lo na grande travessia. Há um momento inevitável em que todos devem morrer. É a lei da vida, sujeita à morte: uma travessia decisiva. Ela deve ser preparada por toda uma vida que se guiou por valores morais generosos, responsáveis e benfazejos.
A presença discreta, respeitosa do cuidador, do parente próximo ou da amiga, pegando-lhe a mão, susurrando-lhe palavras de conforto e de coragem, convidando-o a ir ao encontro da Luz e ao seio de Deus, pode fazer com que o moribundo saia da vida sereno e agradecido pela existência que viveu. Morrer é cair nos braços de Deus.
Aqui o cuidado se revela muito mais como arte que como técnica e supõe no agente de saúde densidade de vida, sentido espiritual e um olhar que vai para além da morte. Atingir este estágio é uma missão a que o enfermeiro(a) e também os médicos(as) devem buscar para serem plenamente servidores da vida. Para todos valem as sábias palavras: “A tragédia da vida não é a morte, mas aquilo que deixamos morrer dentro de nós enquanto vivemos”.

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