quarta-feira, 24 de abril de 2013

COMPAIXÃO NÃO É SOFRER PELOS OUTROS, MAS SOFRER COM ELES.


A defesa das causas dos pobres é uma tarefa árdua. Exige-nos mais do que compreensão, discursos e teorias sobre a pobreza, mas, sobretudo, compromisso e compaixão. Somos preconceituosos com o sofrimento e a situação indigna como vivem os pobres. É muito forte a ideia de que pobres são coitados, por isso desprovidos de sorte e de bens. Se não lutam, são preguiçosos. Se lutam e exigem mudanças tornam-se perigosos. 

Os pobres não são invenção, não são uma ideia. São reais. Os pobres existem e sofrem a violação da sua vida e dignidade. Leonardo Boff, defensor incansável das causas dos pobres e oprimidos, afirma que são três as compreensões que se tem da pobreza. Uma primeira, clássica, é a ideia de que pobre é aquele que não tem. A estratégia então é mobilizar quem tem para ajudar a quem não tem, através de ações assistencialistas, sem reconhecer sua potencialidade. A segunda ideia, moderna, é aquela que descobre os potenciais do pobre e compreende que o Estado deve fazer investimentos para que ele seja profissionalizado, com vista à inserção no mundo produtivo. Ambas as posições desconsideram, na visão de Boff, que a pobreza é resultado de mecanismos de exploração, que sempre geram enormes conflitos sociais. Boff acredita que é preciso reconhecer as potencialidades dos pobres não apenas para engrossarem a força de trabalho, mas para transformarem o sistema social. 
Só a compaixão se reveste de libertação. A compaixão não é sofrer pelos outros, mas sofrer com eles. O sofrer com os outros permite colocarmo-nos no seu lugar. Ver a partir dos seus pontos de vista e das suas realidades. Poucos vivem a compaixão. Muitos perderam a sensibilidade, o que os impossibilita de viver a caridade e o amor ao próximo. Outros preferem atribuir aos pobres a culpa pela sua situação de miséria e vulnerabilidade. Outros discursam democracia, não perguntando se esta propicia as mesmas condições e oportunidades a todos, como ponto de partida. Porque o ponto de chegada depende de cada um de nós. “As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Leve-as no coração”, disse dom Hélder Câmara. Este é o sentido maior da compaixão para com os pobres: não os defendemos por serem bons ou anjos, mas porque são parte de uma sociedade desigual, que não sabe lidar com eles.

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