terça-feira, 20 de agosto de 2013

O PROBLEMA É A OMISSÃO DOS BONS.


O mundo não vai mal porque existem muitos maus, mas porque os bons se omitem

Num campo isolado, com muita relva e muita água, viviam tranquilos três touros: um marrom, um branco e um preto. Nas cercanias habitava também um leão, que era visto, algumas vezes, entre a vegetação espessa, espiando os animais. Naturalmente, ele causava medo. Mas, aos poucos, os touros estavam se acostumando, até mesmo comentavam que o leão não era tão feroz como se dizia. Vez por outra o leão, respeitosamente, desejava a eles um bom dia.
Aproveitando a ausência do touro branco, o leão se aproximou dos touros preto e marrom e fez-lhe esta proposta: corremos o risco de chamar atenção dos caçadores por causa da cor chamativa do touro branco, tão diferente da nossa, que é tão discreta. Os touros concordaram e o leão devorou o touro branco. Passado algum tempo, o leão insinuou-se junto ao touro marrom: a tua cor e a minha cor são iguais. Deixa-me comer o touro preto, para que possamos viver tranquilos. A contragosto, o touro marrom concordou e o touro preto foi também devorado. E o touro marrom ficou sozinho. Chegou tua vez, disse o leão, uma semana depois. Conformado, o touro disse apenas: faze-o, mas antes deixe que eu proclame uma verdade: fui devorado no dia em que entregamos o touro branco.
A fábula dos animais se repete, muitas vezes, com os humanos. A injustiça praticada contra um inocente afeta a todos. A omissão costuma cobrar um preço muito alto. O raciocínio é míope: não tenho nada a ver com aquilo.
Poeta e pensador alemão do século XX, Bertold Brecht deixou um pequeno poema sobre a omissão diante do nazismo: primeiro vieram prender os comunistas, eu não me importei, pois não era marxista; depois prenderam alguns operários, não me importei, pois não sou operário; depois agarraram os sacerdotes, mais uma vez não me importei, não sou religioso... Quando vieram prender-me, não tinha ninguém para me defender.
A tentação de lavar as mãos, a clássica receita de Pilatos, costuma trazer um perigoso saldo de injustiças, lágrimas e sangue. Aparentemente não é conosco e fingimos não ver e escutar. O pensador John Danne proclamava: nenhum homem é uma ilha: cada homem é uma parte da terra. Se um torrão cai no mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, o solar do teu amigo ou o teu próprio...
Possivelmente o maior pecado da atualidade seja a omissão. O mundo não vai mal porque existem muitos maus, mas porque os bons se omitem. Povo unido jamais será vencido, proclamava um grito de mobilização na década de oitenta. A estratégia contrária propõe: dividir para vencer. Determinadas alianças podem tornar-se perigosas. E no final da vida seremos cobrados por tudo o que não fizemos. E a aliança do leão com o cabrito nunca dará certo.

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