Há muitas maneiras de expressar a fé em Deus. A melhor delas é a fé serena. Uma outra, a eufórica e estrepitosa, também é fé, mas revela adesão triunfalista. Feita de clamor imenso, algaravia de vozes, superlativos e aumentativos... Os milagres são em catadupa e ai de quem duvidar deles. O nome do pregador é repetido a toda hora para que saibam que depois de Jesus ninguém é mais eficaz do que ele.
A marcha de 200 mil pessoas vira marcha de um, depois dois e no quinto ano três milhões de fiéis. As fotos mostram 200 mil, mas eles calculam três milhões. Quem vai contar?
Há um marketing eufórico da fé que mantém os fiéis em constante adrenalina. São vinte aclamações por minuto. Gravei um desses cultos. Errado? Certo? Imagine uma partida de futebol na qual, a cada minuto, a multidão gritasse gol. Alguém que não viu a partida imaginará que o placar foi de 50 a 40.
Não admira que as estatísticas dessas igrejas sejam tão avantajadas. É fé eufórica recheada de alardes. Nas ruas onde moram meus sobrinhos há uma pequena igreja quase em frente à casa deles. Nas quartas-feiras, dez a quinze fiéis se reúnem para o culto. Mas os pregadores usam de microfone e caixas de som em altíssimo volume. Certamente não é para aqueles fiéis. Quer queira quer não, a vizinhança tem que ouvi-los. Serão autuados no dia em que alguém se cansar daquela imposição fanática.
Eis aí um exemplo de fé eufórica. O barulho é maior que o conteúdo. Normal não é! As outras igrejas são unânimes em afirmar que a mensagem cristã não pode ser imposta. Também judeus e muçulmanos ensinam isso. Então, deve ser problema de pregador despreparado.
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