sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A INFÂNCIA CAPTA FATOS E PAISAGENS INESQUECÍVEIS


A infância capta fatos e paisagens inesquecíveis. Seguidamente voltamos no tempo e reavivamos peculiaridades que nos enchem de nostalgia e nos transportam para lugares incríveis. É simplesmente fantástica a capacidade que o cérebro humano tem de guardar detalhes e de torná-los próximos, afetivamente. Daí a importância de experiências positivas nos primeiros anos de vida. São registros que se perpetuarão, ao longo da existência.
Um poço de água límpida e fresca. Um balde atado em uma corrente. O ruído da descida e subida do balde, no ato de alcançar as profundezas e trazer à superfície o precioso líquido, capaz de saciar a sede. Uma imagem sempre presente. Quando pequeno, as forças eram limitadas. Mas o desejo de mexer no poço permitia outras energias para que o balde subisse à borda, cheio de água. O ruído da corrente sendo enrolada num cepo de lenha era como uma melodia. Havia, também, o cuidado de não avançar sobre o poço. As advertências eram levadas a sério.
Os tempos são outros. Os poços artesianos são bem mais profundos e automatizados. O balde tem outras funções: já não desce às profundezas. Os humanos continuam ingerindo água, condição para continuar saudáveis, e permanecem sedentos. Outras sedes permeiam a existência, nas profundidades que produzem ecos sonoros, nem sempre captados e tratados. Inquietações abrem caminhos, multiplicam itinerários. Viver é responder aos contínuos anseios que emanam de corações que não abrem mão do significado da vida.
Enquanto o humano for sedento de amor e de paz, haverá possibilidade de transformação. O materialismo parece ter eliminado outras sedes e privilegiado o desejo de ter. Porém, certa insatisfação parece crescente entre os humanos. Prova disso é que a grande maioria que tem coisas parece não ter a serenidade de uma vida bem alicerçada. A necessidade material é indiscutível. Limitar o humano à satisfação mediante o ter é reduzi-lo à pequenez.
Não há necessidade de voltar ao poço e ouvir novamente o ruído da corrente. No entanto, é urgente auscultar o que vai nas profundidades do ser. Outras sedes merecem atenção e cuidado. O tempo não pode ser o único encarregado para serenar a interioridade. Convém não esquecer que um coração sedento precisa de laços fraternos, de afeto e de espiritualidade.

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