terça-feira, 7 de maio de 2013

MARGARET TACHTCHER E O MILITANTE IRLANDÊS

Morreu Margaret Thatcher, a loura e implacável primeira-ministra da Grã Bretanha que reinou absoluta e poderosa durante 11 anos (1979-1990), levando adiante uma política conservadora que dividiu a Inglaterra econômica e politicamente. Brilhantemente inteligente e ferreamente determinada, foi a primeira mulher a liderar um partido na Inglaterra e a primeira mulher primeira-ministra na monarquia inglesa.
Casada e mãe de dois filhos que lhe sobrevivem, Margaret Thatcher faleceu no último dia 8, aos 80 anos de idade. A Inglaterra a homenageou e outros estadistas e líderes políticos do mundo inteiro também.
É conhecida a amizade que a ex primeira-ministra entretinha com o então presidente dos EUA, Ronald Reagan. A aliança entre as duas potências, que se explicitou por apoios, continua. O presidente Barack Obama disse que os EUA perdiam uma grande amiga. 
Maggie Thatcher é alguém que poderia haver se tornado um ícone da emancipação e promoção da mulher no mundo inteiro. Poderia ser citada como exemplo e inspiração para o feminismo dos anos 1980 e o atual. Afinal, uma mulher que chegou ao posto político mais alto em seu país, abaixo apenas da própria rainha. E, no entanto, não o é. Por quê? Porque não encarna certos valores, atitudes e prioridades que as mulheres consideram fundamentais para sua identidade. Pelo contrário, sua biografia a coloca como antípoda daquilo que a mulher propõe à sociedade como síntese e como aspiração. 
Deixando de lado sua briga com os mineiros britânicos, cuja organização trabalhista foi dizimada em nome de uma riqueza e desenvolvimento do país que não contemplava muito os direitos humanos, para mim Thatcher é uma figura que choca mais que encanta, principalmente por dois fatos: sua atitude diante dos militantes do IRA que reivindicavam para si o estatuto de presos políticos e suas decisões durante a guerra das Malvinas com Argentina. 
O início dos anos 1980 foi marcado, na sociedade britânica, mas com forte repercussão internacional, pela queda de braço entre Margaret Thatcher e um grupo de militantes do IRA, que terminaria de forma trágica, com a morte do jovem Bobby Sands. Ele era militante do IRA desde os 18 anos, e membro eleito do Parlamento inglês. Morreu de fome aos 27 anos, na prisão de Long Kesh - onde cumpria pena de 14 anos por envolvimento num atentado à bomba, que negou sempre.
Bobby e seus companheiros exigiam serem considerados prisioneiros políticos - usarem as suas próprias roupas e não uniformes de presidiários, terem direito a visitas semanais e a recursos para escrever, a organizarem os seus próprios tempos com atividades por eles escolhidas... Tudo lhes foi negado pelo governo Thatcher.
A causa de Sands era a libertação da Irlanda do Norte da ocupação inglesa. Por isso lutou e entregou sua vida. Cumpriu pena em prisões inglesas dos 18 aos 21 anos. Seis meses após a libertação, voltou à prisão até abril de 1976. Em outubro desse mesmo ano morreu na enfermaria da prisão, após 66 dias sem se alimentar.
Sua morte chocou a opinião pública mundial. Mesmo discordando dos métodos violentos usados pelo IRA para lutar pela libertação da Irlanda, que acabaram atingindo e matando muitos, inclusive civis e inocentes, era evidentemente desumano deixar morrer de fome um grupo de seres humanos.
Na contramão de sua identidade de mulher, que é guardiã da vida, Margaret Thatcher teve sua biografia marcada para sempre pela vida interrompida de Bobby Sands e vários de seus companheiros. A estes se seguiriam os jovens soldados argentinos que morreram na insana guerra das Malvinas, onde a Dama de Ferro tampouco afrouxou por um minuto sua implacável dureza.
Enquanto as mulheres que chegam ao poder reproduzirem a obsessão masculina de fazer guerras, a humanidade não conhecerá melhores dias. Sem emitir juízos definitivos sobre a totalidade da vida de Thatcher, cremos que esses pontos de sua vida certamente não contribuem em nada para a promoção da mulher na sociedade. Que ela descanse em paz, mas que não nos inspire em sua rigidez inabalável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário