sexta-feira, 31 de maio de 2013

"ENGANAR OS OUTROS É CONDENÁVEL, MAS A SACANAGEM MAIOR É ENGANAR A SI MESMO"

Surpreendido pela polícia em plena madrugada quando estourava o cofre de um bar, o cidadão protestou contra a detenção e considerou-se injustiçado. Diante do juiz, ele apresentou sua versão do fato. Durante a tarde ele entrara no bar, onde pediu um refrigerante e, por distração, esqueceu de pagar. À noite lembrou o fato e não conseguia dormir. Levantou e dirigiu-se ao bar que, nesta hora, estava fechado. Ele sentiu-se obrigado a arrombar a porta para depositar o dinheiro. Uma vez no estabelecimento, percebeu que não tinha o dinheiro certo e, por isso, tratou de abrir o cofre para fazer o troco exato. Aí chegou a polícia.
Sempre temos desculpas para tudo. Quando tomamos uma decisão, observa Paulo Coelho, aparentemente todas as forças do mundo se unem para nos dar razão. Judas deve ter tido bons argumentos para trair o Mestre. Adolf Hitler, certamente, em sua consciência, arranjou bons argumentos para enviar à câmara de gás milhões de judeus inocentes.
Não basta dizer: a minha consciência me aprova. A consciência pode ser adulterada por muitos motivos. Quase sempre aos poucos, passando, progressivamente, para coisas maiores. Pode ser comparada a um par de sapatos. Quando novos, machucam nossos pés. Mais tarde, eles se amoldam e dizemos: é como se eu nada tivesse nos pés. E em função desta nova situação tentamos justificar nossos erros. Enganar os outros é condenável, mas a cilada maior é enganar a nós mesmos. Coisa parecida acontece com os mentirosos. Iniciam enganando os outros e acabam por enganar a si mesmos.
Ninguém é bom juiz em causa própria, tanto que, em algumas situações, o juiz se considera impedido. É sempre importante uma auditoria externa. Os outros nos ajudam a ver com mais clareza. Isto vale para os processos comuns e vale também para nossa consciência.
 “A verdade vos fará livres”. Quando acolhemos o erro, a injustiça, a mentira, nos tornamos escravos deste engano. E nunca sairemos deste círculo vicioso, a não ser pela porta da verdade. A mentira nos torna reféns. É preciso outra mentira para cobrir a primeira. E sempre corremos o risco de sermos surpreendidos.
Cada um de nós constrói a própria história, através dos atos. Quase sempre começamos por pequenos atos, vamos construindo um caminho. E cada vez é mais difícil recomeçar. São correntes que nos vão tirando a liberdade. A sabedoria popular fala dos bons e maus hábitos. E o hábito é uma segunda natureza.
Morto com fama de santidade, dizia com humildade: “Eu sou o que sou diante de Deus”. Um dia, todas as coisas ficarão claras, luz e trevas ficarão evidentes. Mas aí pode ser tarde demais.
O Evangelho nos ensina que podemos recomeçar a cada dia. O estresse, uma doença moderna, tem muito a ver com o jogo da mentira e da verdade. A mentira é sempre cercada de tensões, a verdade não tem contraindicação. Ela sempre nos liberta.

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