sexta-feira, 3 de maio de 2013

A IGREJA E SEUS PROBLEMAS


13.05.02_A Igreja e seus achaques_Flávio Aguiar



Li estarrecido a notícia sobre a excomunhão de um padre em Bauru, no interior de São Paulo, por ter ele defendido homossexuais e condenado as atitudes retrógradas da Igreja Católica em relação a sexo. Diz o juiz instrutor do caso que a decisão de excomungá-lo não teve por base o apoio aos gays, mas sim a sua recusa em obedecer às autoridades da Igreja.

Seja como for, o caso entra para o passivo da Igreja, que terá de prestar contas perante o Criador no dia do Juízo Final ou outra circunstância parecida.

Porque não dá para deixar de sublinhar o rigor desta medida cavernosa diante da indulgência com que a hierarquia católica tratou, até agora, os casos de pedofilia e de outras barbaridades cometidas nas barbas, não do Profeta, mas dos Santos Papas, se eles as tivessem, como alguns já tiveram bem antigamente.

Esquece a hierarquia da Igreja a palavra do próprio Cristo, através do evangelista: “Mas ai daquele que produz escândalos! Seria melhor para ele que lhe amarrassem uma pedra de moinho no pescoço e o jogassem no mar, do que escandalizar um desses pequeninos.” (Lucas, 17, 1-2).
Decididamente a Igreja está precisando de um choque de gestão. Conseguirá dá-lo o Papa Francisco I? Não sei. Recentemente ele apontou uma espécie de Conselho Episcopal, composto por cardeais dos cinco continentes, como uma espécie de grupo auxiliar para auxiliá-lo na administração (faxina, eu diria) da Igreja.

Haverá remédio para a Santa Madre? Bom, é verdade que, apesar das cruzadas da direita vaticana e opusdêica contra, por exemplo, a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base, estas continuam e, por debaixo dos panos eclesiásticos passam bem, obrigado. Estão, é verdade, numa espécie de clandestinidade obsequiosa. Mas não desapareceram.

É difícil coisas desaparecerem na Igreja.  “um amigo”, me disse, arregalando os olhos como fazia nessas ocasiões, “eles pensam em milênios!”…

É verdade, penso até hoje. O tempo eclesiástico é de outra dimensão, assim como o do Criador, de certo modo, é o da eternidade. Esta é uma outra razão para meu pensamento que pode ser herético, mas não é desrespeitoso. Exatamente por ser seu tempo o da eternidade, é que o Criador teve que se dedicar a tirar do tudo (ou do nada, para alguns) a Criação, e dentro dela o ser humano. É porque na eternidade não há prazer. Esta é uma das razões por que, por exemplo, o Zeus grego ficava procurando as humanas gostosas, ao invés de ficar apenas com a insípida Hera. Era para ver se ele conseguia pelo menos vislumbrar o que era o prazer, porque o prazer só é prazer porque acaba. O prazer é umbilicalmente ligado à sensação de finitude.

E esta é uma das dimensões do gigantesco erro em que a Santa Madre incorre ao defender coisas como a castidade, a querer proibir o direito ao aborto (não que eu seja indiscriminadamente a favor do aborto, mas sou sim contra a sua criminalização), ao atacar a opção das pessoas do mesmo sexo que se amam, etc. Porque isto parte de uma ideia de negação do prazer, que é uma das dimensões que, através da Criação, o Criador (ou o Big Bang, para os íntimos da religião científica) ou seja lá quem for ou que nome se lhe atribua, entregou, como dádiva, aos seres que a povoam, desde as amebas até o ser pensante que julgamos ser.

Durma-se com uma excomunhão dessas! Ou com as duas – a do padre de Bauru e a do prazer.

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