segunda-feira, 29 de outubro de 2012

NOS CEMITÉRIOS REPOUSAM NOSSAS SAUDADES, LEMBRANÇAS E VIVENCIAS

A morte sempre é um acontecimento desestruturador da vida social e familiar. Para que haja a superação deste tão grande sofrimento, a humanidade foi construindo rituais que buscam recompor a nossa existência, de tal sorte que continuemos tendo motivos suficientes para uma vida de sentido. Precisamos construir sentido de vida pois, sem este, nossa vida não se sustenta e não se justifica.
Visitar os túmulos dos nossos entes queridos tem dois significados: a elaboração do luto e a referência a um lugar afetivo. Nos cemitérios repousam as nossas mais recônditas lembranças, memórias, saudades, vivências. Retomá-las, dando-lhes novas significações, renova nossa vida, estrutura nossa fé.
O culto aos mortos não deixa de ser o culto à nossa própria experiência existencial. Somos, de certo modo, a continuidade daquilo que foi projetado (como visão de futuro) por nossos antepassados. Foram eles que nos antecederam na sua experiência concreta de vida, dando-nos seu exemplo, mostrando-nos caminhos e possibilidades.
Vincular-se aos nossos antepassados é admitir que a nossa existência segue porque foi marcada por muitos que nos antecederam, deixando profundas marcas em nossa existência. Como bem disse o poeta Gonzaguinha: “...aprendi que se depende sempre/ De tanta, muita, diferente gente/ Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas/ E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá/ E é tão bonito quando a gente entende que nunca está sozinho, por mais que pense estar”.
A visita aos cemitérios tem, para os cristãos, o sentido da esperança na ressurreição. Velas, flores e cruzes traduzem a crença na vida nova em Cristo. As velas carregam o simbolismo do batismo e de nossa vivência da fé. Ao acendermos as velas para nossos entes queridos, estamos reafirmando nossa fé e a esperança na vida eterna. As flores expressam nossos sentimentos de dor, de saudade, de carinho, de alegria e de esperança de um reencontro. As cruzes falam de nossa fé e de nossa certeza de que a vida não acaba com nossa morte física.
Não temos motivos para tristeza no dia de finados, mas muitas razões para renovar nossa esperança e revisar a nossa existência. As comunidades religiosas são, sobretudo, o lugar onde fazemos a memória de nossos mortos, buscando apreender de seus ensinamentos, exemplos e virtudes. Quem tem uma comunidade e leva uma vida comunitária vive mais feliz. A comunidade, por sua vez, é o espaço em que lapidamos o nosso ser pessoal e social, onde ousamos viver a nossa subjetividade, buscando o reconhecimento.

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