A morte sempre é um acontecimento desestruturador da
vida social e familiar. Para que haja a superação deste tão grande sofrimento, a
humanidade foi construindo rituais que buscam recompor a nossa existência, de
tal sorte que continuemos tendo motivos suficientes para uma vida de sentido.
Precisamos construir sentido de vida pois, sem este, nossa vida não se sustenta
e não se justifica.
Visitar os túmulos dos nossos entes queridos tem dois
significados: a elaboração do luto e a referência a um lugar afetivo. Nos
cemitérios repousam as nossas mais recônditas lembranças, memórias, saudades,
vivências. Retomá-las, dando-lhes novas significações, renova nossa vida,
estrutura nossa fé.
O culto aos mortos não deixa de ser o culto à nossa
própria experiência existencial. Somos, de certo modo, a continuidade daquilo
que foi projetado (como visão de futuro) por nossos antepassados. Foram eles que
nos antecederam na sua experiência concreta de vida, dando-nos seu exemplo,
mostrando-nos caminhos e possibilidades.
Vincular-se aos nossos antepassados
é admitir que a nossa existência segue porque foi marcada por muitos que nos
antecederam, deixando profundas marcas em nossa existência. Como bem disse o
poeta Gonzaguinha: “...aprendi que se depende sempre/ De tanta, muita, diferente
gente/ Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas
pessoas/ E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde
quer que a gente vá/ E é tão bonito quando a gente entende que nunca está
sozinho, por mais que pense estar”.
A visita aos cemitérios tem, para os
cristãos, o sentido da esperança na ressurreição. Velas, flores e cruzes
traduzem a crença na vida nova em Cristo. As velas carregam o simbolismo do
batismo e de nossa vivência da fé. Ao acendermos as velas para nossos entes
queridos, estamos reafirmando nossa fé e a esperança na vida eterna. As flores
expressam nossos sentimentos de dor, de saudade, de carinho, de alegria e de
esperança de um reencontro. As cruzes falam de nossa fé e de nossa certeza de
que a vida não acaba com nossa morte física.
Não temos motivos para tristeza
no dia de finados, mas muitas razões para renovar nossa esperança e revisar a
nossa existência. As comunidades religiosas são, sobretudo, o lugar onde fazemos
a memória de nossos mortos, buscando apreender de seus ensinamentos, exemplos e
virtudes. Quem tem uma comunidade e leva uma vida comunitária vive mais feliz. A
comunidade, por sua vez, é o espaço em que lapidamos o nosso ser pessoal e
social, onde ousamos viver a nossa subjetividade, buscando o reconhecimento.
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