segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A MORTE. NOSSA ÚLTIMA BRINCADEIRA


Um concurso lançado por uma empresa israelense pode ser sua última chance de tornar-se célebre. O premiado será aquele que morrer primeiro e, neste caso, nem mesmo poderá gozar de seus quinze minutos de celebridade. Para participar, o usuário da Internet precisa gravar um vídeo para ser exibido após sua morte. Nos primeiros dias, cerca de duas mil pessoas se inscreveram.
O primeiro que morrer, entre todos os inscritos, terá o testemunho publicado em sites e portais de todo o mundo.
O programa virtual permite aos internautas gravar uma mensagem de despedida com vídeo e texto para ser publicado na rede social só após a morte de cada um deles. Regulamento prevê que o vídeo não será publicado em caso de suicídio ou quando existir interferências visando antecipar a própria morte. A empresa estima que o primeiro ganhador sairá somente num prazo de vinte meses.
Já que não podemos vencer a morte, procuramos duas maneiras de enfrentá-la. A primeira é, simplesmente, esquecê-la. Fazer de conta que ela não existe. A segunda maneira é tentar brincar com ela. Esta opção foi escolhida pelo israelense Eran Alfronta. Depois de uma vida inteira no anonimato, na humilde rotina do dia a dia, há os que escolhem esta possibilidade para uma “imortalidade” provisória de 15 minutos, mesmo eles estando ausentes.
A morte é uma coisa séria. Sua sombra costuma pairar sobre as pessoas, sobretudo a partir de certa idade. O filósofo espanhol Miguel de Unamuno dizia que o homem é um animal doente, porque sabe que vai morrer. A vida pode ser definida como um aprendizado para a morte. Aprender a morrer é tarefa pessoal e irrepetível. Mas antes disso, precisamos aprender a viver. O tempo é um dom de Deus e nos é dado para nosso amadurecimento.
Viver bem é a melhor maneira de preparar a morte. Mesmo assim, a morte se constitui no momento mais privilegiado da vida.
Na visão apenas humana, a morte é um absurdo. Temos ânsia de viver para sempre e somos finitos. Os primeiros cristãos colocavam na sepultura o dia do nascimento, mas não nascimento para o mundo, mas o nascimento para a eternidade. A ternura de São Francisco descobriu na morte uma irmã, a irmã mais velha que nos entrega ao Pai.
A morte tornará definitivo, não os últimos quinze minutos, mas nosso projeto de vida. É o apito final e vale o resultado do jogo. Mas é um jogo de cartas marcadas.  Para Shakespeare, depois da morte, o mistério; para o cristão, depois da morte a Vida.

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