terça-feira, 18 de outubro de 2011

O SOFRIMENTO E O SER HUMANO.

Se há uma realidade humana que mais atinge e toca o coração da vida, é justamente o sofrimento. É uma das experiências básicas da existência humana. Nascemos envolvidos nas dores de parto e morremos num segundo parto carregado dos mais diversos tipos de sofrimentos. Mesmo que não queiramos, não se consegue imaginar o viver humano sem as surpresas do sofrimento.

Os sofrimentos nos atingem e chegam a nós de muitos modos; fazem morada em nós em todas as dimensões da vida. Temos sofrimentos físicos, causados por doenças que afloram em nosso corpo, por ferimentos ou acidentes. Temos sofrimentos psicológicos que nos ferem em nível mais profundo, seja nos sentimentos, nos afetos, na experiência da solidão ou no descontrole emocional.
Temos sofrimentos espirituais que atingem a profundeza de nosso ser e nos desequilibram psicologicamente, chegando, às vezes, até a somatização. Nada pior do que perder o rumo da vida e o ponto de apoio seguro, a partir do qual nos lançamos bem em todas as direções. Os sofrimentos espirituais são parecidos com a fragilização ou ruptura da espinha dorsal em nosso corpo. Diante dos sofrimentos espirituais podemos ficar em silêncio, mas suas consequências vão contagiando todo o tecido da vida.
No cotidiano da vida todas as portas são possíveis para o ingresso do sofrimento em nós e nos outros. Há portas que estão ao meu comando e que não consigo controlar: é o meu nervosismo à flor da pele; é minha autoimagem diminuída; são meus sentimentos feridos e minha sensibilidade exacerbada; é o desejo de fugir da vida e buscar refúgio no álcool, na droga e no prazer sem amor; é o descaso no cultivo da espiritualidade e da oração; são os ímpetos de vingança e os instintos sem controle. Essas portas, eu poderia comandar se treinasse no dia a dia a certeza de que sou sujeito de minha história.
Se existem portas sob meu comando, existem outras que são arrombadas pelas agressões exteriores. Há sofrimentos causados pela violência e pelo poder, pela injustiça institucionalizada que tira o pão dos famintos e a dignidade de multidões. Há sofrimentos que invadem corações por palavras ofensivas, desprezos maldosos, indiferenças e rejeições. Há sofrimentos que invadem lares e roubam a credibilidade política da sociedade.
O certo é que, entre o nascimento e a morte, fazemos uma trajetória de sofrimentos. Trata-se de uma consequência da condição humana, da pequenez e contingência nossa num mundo vasto e violento, bem como da inevitável luta pela vida no meio das adversidades que nos cercam. O tesouro da vida sempre está envolto em vasos de barro.
Diante dessa realidade, podemos nos deparar com dois perigos. O primeiro é o de nos fixar no vaso de barro, de que somos feitos, e cair num triste pessimismo que anula nossas esperanças e tira as motivações de viver. O segundo é o de nos pensarmos apenas como tesouro, esquecendo de que somos feitos de barro. Dessa visão unilateral colocamos a vida em permanente risco de desgastes e sofrimentos. Nosso viver é um tesouro em vasos de argila. Necessita ser valorizado conforme o valor que Deus nos dá, mas, ao mesmo tempo precisa de nosso permanente cuidado.

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