domingo, 30 de outubro de 2011

AQUELA HORA.

Um amigo meu, bastante filosófico nas suas colocações, quando fala da morte de alguém, ou da morte como tal, costuma usar a expressão: “Aquela hora”. Raramente usa o substantivo morte. Não gosta dele e não se sente bem pronunciando. Paúras à parte, numa coisa ele tem razão. A morte não é eterna, ela tem duração. Pode ser dez minutos, um minuto, uma hora, cinco horas, alguns dias, mas ela é certamente mais curta que a vida. Muitíssimo mais curta. É um túnel que nunca é maior do que a estrada. A estrada não começa nele e não acaba nele. Os túneis são o que são: passagens. Às vezes escuras, às vezes iluminadas, mas passagens.
Numa sociedade como a nossa, que escolheu tornar-se uma civilização de morte, e que aceita a morte dos outros com enorme naturalidade, sem emoção nenhuma e que todos os dias vê vidas sendo desperdiçadas do berço à velhice, acaba ficando insensível.
Só dói a morte dos parentes ou a própria morte. A dos outros passa a ser um mero acidente, estatística. Vale a pena, num mundo como esse, refletir de vez em quando sobre a inexorabilidade da morte. Tudo o que nasceu vai morrer um dia. A coisa mais certa, depois do nascimento, é a morte. Nasceu, vai morrer. Não há como fugir.
Se tem que ser, então é melhor vivermos uma vida tranquila de quem sabe que um dia vai morrer, mas quando for não irá como suicida num carro em altíssima velocidade ou depois da injeção de drogas ou venenos letais.
Se o céu existe, e eu aposto nisso, o certo é chegar lá e poder dizer para Deus: Eu sabia que vinha, não sabia quando, mas fiz muito bem o meu vestibular. Nos dias de hoje há muita gente fazendo o seu vestibular para a morte violenta. Pena que vestibular para a morte não seja o mesmo que vestibular para o céu.
Oremos para que Deus nos ilumine e nos ensine a viver como quem sabe que morrerá, e a morrer como quem soube viver direito. Nem todo mundo consegue.

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