sexta-feira, 21 de outubro de 2011

LÊ, PENSA. QUESTIONA

Recebi um desses e-mails anônimos, convidando à mobilização da próxima manifestação: eram 31 pontos de pauta, longos e os mal alinhavados. Começavam basicamente por verbos como “acabar”, “proibir”, “criminalizar”. Verbos no infinitivo inconcreto. Muito som e fúria, mas, e daí? Quem vai “acabar”, “proibir”, “criminalizar”? Quem guardará o guarda?
Quem vai refletir e discutir seriamente o que se passa? Estamos numa encruzilhada entre o desenvolvimento e o eterno retorno ao gigante adormecido. Precisamos de instrumentos novos ou pelo menos renovados, precisamos de gente nova e disposta. Mas há uma crise econômica e um esvaziamento estrutural da política. E, antes de tudo, é necessário admitir que também a mídia vive sua crise e seus vazios. Que fazer?
Partidos políticos e sindicatos – se quisermos dar este nome – ou entidades daquilo a que um dia chamamos “sociedade civil organizada” precisam de novo vigor: carecem de envolvimento, lideranças e espaços para debates, Para tudo isso se requer compreender a natureza da crise, suas causas e consequências; reconhecer o vazio de nomes e instrumentos para superá-lo.
Como é óbvio, não tenho respostas e menos ainda soluções. Contribuo acreditando que não há solução simples. Sei, no entanto, que não serão apenas os 140 caracteres do Twitter que trarão luz à escuridão. Há outros instrumentos: a imprensa tem, é claro, papel fundamental – se se dispuser a ser algo mais do que porta-voz da primavera do senso comum de um segmento de mercado, revoltado e sedento por vingança. Como já fez no passado, pode contribuir para despertar o debate sobre o diagnóstico, estimular a reflexão a respeito de alternativas.
Se já teve papel de vanguarda, à frente de seu tempo, a imprensa não pode agora ficar a reboque dos fatos. O cinismo comodista é nefasto e o farisaísmo é torpe. Ao invés do óbvio e do senso comum, será preciso calma e honestidade para dizer: “Cansou? Senta, respira, descansa. Lê, pensa, reflete, questiona. Nada pode significar nada. Isso! Agora, responda: qual é o seu ponto?”
A classe média, as manifestações e Veja precisam dizer qual é o seu ponto.



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