segunda-feira, 29 de agosto de 2011

RODA DA FORTUNA I

Oque distingue a modernidade das épocas anteriores é a nossa capacidade de criar e destruir, destruir e criar, sempre em busca de algo novo e melhor. Já não há durabilidade. Objetos que, numa mesma família, acompanhavam gerações, passavam de avós a filhos, netos e bisnetos, já não existem. A era dos museus de antiguidades terminou. Já não haveria suficiente espaço para abrigar tantos modelos de carro que se sucedem, ou gerações de computadores que surgem de um semestre ao outro.

O processo de obsolescência não atinge apenas objetos. Influi também na cultura e no comportamento. Por que devo conservar e ser fiel, hoje, a princípios e valores que me norteavam ontem? Ontem me convinha sonhar com um mundo mais justo, manter uma atitude ética que diferia daqueles que me serviam de antimodelos e eram meus potenciais inimigos.
Agora o mundo mudou, e eu com ele. Meu idealismo também se tornou obsoleto. Já não bafeja a minha vaidade, nem me traz vantagens. Findou o mundo em que havia heróis, modelos a serem seguidos – Gandhi, Mandela, Che. Hoje os paradigmas são pessoas de sucesso no mercado, celebridades, essa gente bonita e rica que ostenta luxo, esbanja saúde e ocupa sorridente as páginas das revistas de variedades.
Que vantagem levo ao arrastar para a pós-modernidade um mundo obsoleto que ninguém mais admira nem quer ouvir falar? O Muro de Berlim ruiu, os éticos não amealharam fortunas, os antigos valores soam agora como bregas, ultrapassados. Pobre de mim se insisto em me manter apegado a eles! São todos obsoletos.


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