terça-feira, 9 de agosto de 2011

MÍOPE, VULGAR E CANIBALESCA.

Sempre apostando no otimismo e na crença de que o capitalismo é um estado de espírito próximo da exuberância e da euforia, a grande imprensa mundial atrelada à grande imprensa americana foi surpreendida, em 2008, pelas dimensões da crise que se armava no mercado hipotecário dos EUA.

Depois da quebra do Lehman Brothers, em 16 de setembro daquele ano, excetuadas algumas dramatizações episódicas, mídia e mercado continuaram a esfuziante ciranda, certos de que o desastre seria logo superado. Não foi. Ao contrário, agravou-se. Globaliza-se a cada dia que passa. Candidata-se a e converter em novo capítulo da História.
Nas semanas que antecederam o deadline de 2 de agosto, quando o Congresso deveria autorizar o aumento do teto da dívida pública dos EUA, o noticiário confinou-se às páginas e cadernos econômicos: foi um erro. O impasse era ideológico e sendo assim deveria ter sido acompanhado nos espaços e por especialistas em política. Isso só veio acontecer agora, quando até mesmo as agências de rating começam a ser questionadas e avaliadas como peças do tabuleiro político.
A gravidade da situação mundial transcende à segmentação do noticiário exigida pelos marqueteiros e publicitários. As quedas das bolsas em todo o mundo não podem ser desvinculadas dos acampamentos dos indignados que nas grandes metrópoles questionam governos insensíveis, burros, oportunistas.
Quando no século 16 a imprensa começou a tornar-se uma instituição, o seu símbolo era Mercúrio, o deus romano equivalente ao grego Hermes – representação do viajante, do mensageiro eloqüente, rápido, agente de intercâmbios. O comércio está associado a lucro, mas também a intercâmbio, trocas. Não foi por acaso que a partir daquele momento criaram-se na Europa e América, jornais chamados “Mercúrio”. Restaram poucos, um deles no Chile.
Mercúrio está aposentado. Vencido por uma divindade rasteira, míope, vulgar e canibalesca chamada Mercado. Quem está pagando pela troca é a imprensa.




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