sexta-feira, 5 de agosto de 2011

OS MUITOS JEITINHOS DE FURTAR

Num famoso sermão, proferido na Bahia, o vigoroso pregador padre Antônio Vieira (1608-1697) garantiu que o verbo furtar era conjugado em todos os tempos, modos e pessoas. Não escapava ao grande jesuíta que nem todos os roubos eram iguais e distinguia entre aquele que roubava por necessidade e os poderosos cujos roubos são comandados por ganância sem limites. E ele situava: “uns roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor, nem perigo; os outros furtam e são enforcados; estes furtam e enforcam”.

Passaram-se trezentos anos e a afirmação é cada vez mais atual. Até mesmo se pode dizer que o Padre Vieira não vira nada. Hoje a “arte de furtar” assumiu proporções gigantescas e usa métodos sofisticados e desconhecidos naquele tempo. A cada dia a mídia denuncia novos tipos de furtos, genericamente enfeixados com o nome de corrupção. Na realidade, existe no Brasil a cultura da corrupção. É o famoso “jeitinho” com presunção de impunidade.
Diante deste quadro deve ser saudada a atitude da presidente Dilma Rousseff que comandou uma vassourada no Ministério dos Transportes e garantiu que os novos ocupantes precisarão apresentar “ficha limpa”. Trata-se de uma atitude corajosa que não vinha sendo tomada no passado em nome da governabilidade. E essa atitude precisa prosseguir.
Os meios de comunicação têm o dever de denunciar, mas só o Executivo tem o poder de demitir. Eventualmente, pode ser cometida alguma injustiça. Porém injustiça maior seria cometida pela omissão, contra o povo. É bom lembrar que não existe dinheiro público, mas dinheiro do público, que precisa ser usado para o bem comum. A corrupção é crime contra o contribuinte, ou seja, o povo. E os culpados devem ser convidados a restituir o dinheiro desonesto.

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