domingo, 7 de agosto de 2011

O MUNDO INSONE

Este título foi usado pela primeira vez há 97 anos (18 de agosto de 1914), no principal jornal de Viena. A Primeira Guerra Mundial começara três semanas antes, os beligerantes já estavam alinhados (faltavam apenas os Estados Unidos), o jovem poeta austríaco que escreveu o texto parecia apenas perplexo sem saber situar-se diante das dimensões do conflito.

O mundo deixou de sofrer insônias: nestes quase cem anos de matanças em guerras mundiais, regionais, fratricidas, genocídios, holocausto, crises econômicas e fomes devastadoras percebe-se que hoje se dorme com mais facilidade. Graças a soníferos, tranqüilizantes ou recursos hipnóticos mais eficientes do que contar carneirinhos, parece que aprendemos a conviver com os fantasmas.
Paradoxalmente, isso não é salutar. Para o Nobel de Literatura Günter Grass, o homem contemporâneo sofre menos porque é informado demais – enfiam-lhe na cachola tamanha carga de dados e bites que suas percepções acabam embotadas. Livre das dores de mundo magoa-se apenas com aquilo que lhe afeta pessoalmente. Está de tal forma conectado no mundo digital que se desconectou do resto. Sobretudo das analogias. E assim dorme o pesado sono dos injustos.



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