Na lógica capitalista, o valor de troca de um bem está acima de seu valor de
uso. Portanto, tais bens naturais devem ter preços.
Os consumidores dos bens
da natureza passariam a pagar, não apenas pela administração da “manufatura” do
produto (como pagamos pela água que sai da torneira em casa), mas pelo próprio
bem. Ocorre que a natureza não tem conta bancária para receber o dinheiro pago
pelos serviços que presta. Os defensores dessa proposta afirmam que, portanto,
alguém ou alguma instituição deve receber o pagamento - o dono da floresta ou do
ecossistema.
A proposta não leva em conta as comunidades que vivem nas
florestas. Uma moradora da comunidade de Katobo, floresta da República
Democrática do Congo, relata:
“Na floresta, coletamos lenha, cultivamos
alimentos e comemos. A floresta fornece tudo, legumes, todo tipo de animal, e
isso nos permite viver bem. Por isso que somos muito felizes com nossa floresta,
porque nos permite conseguir tudo que precisamos. Quando ouvimos que a floresta
poderia estar em perigo, isso nos preocupa, porque nunca poderíamos viver fora
da floresta...”.
O comércio de serviços ambientais ignora essa visão dos
povos da floresta. Trata-se de um novo mecanismo de mercado, pelo qual a
natureza é quantificada em unidades comercializáveis.
Essa ideia, que soa
como absurda, surgiu nos países industrializados do hemisfério Norte na década
de 1970, quando houve a crise ambiental. Europa e EUA tomaram consciência de que
os recursos naturais são limitados. A Terra não tem como ser ampliada. E está
doente, contaminada e degradada.
Frente a isso, os ideólogos do capitalismo
propuseram valorizar os recursos naturais para salvá-los. Calcularam o valor dos
serviços ambientais entre US$ 16 e 54 trilhões (o PIB mundial totaliza US$ 62
trilhões). “Está na hora de reconhecer que a natureza é a maior empresa do
mundo, trabalhando para beneficiar 100% da humanidade – e faz isso de graça”,
afirmou Jean-Cristophe Vié, diretor do Programa de Espécies da IUCN, principal
rede global pela conservação da natureza, financiada por governos, agências
multilaterais e empresas multinacionais.
Em 1969, Garret Hardin publicou o
artigo “A tragédia dos comuns” para justificar a necessidade de cercar a
natureza, privatizá-la, e assim garantir sua preservação. Segundo o autor, o uso
local e gratuito da natureza, como o faz uma tribo indígena, resulta em
destruição (o que não corresponde à verdade). A única forma de preservá-la para
o bem comum é torná-la administrável por quem possui competência – as grandes
corporações empresariais. Eis a tese da economia verde.
Ora, sabemos como
elas encaram a natureza: como mera produtora de ‘commodities’. Por isso,
empresas estrangeiras compram, no Brasil, cada vez mais terras, o que significa
uma desapropriação mercantil de nosso território.
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