Asustentabilidade, um dos temas centrais da Rio+20,
não acontece mecanicamente. Resulta de um processo de educação pela qual o ser
humano redefine o feixe de relações que entretém com o Universo, com a Terra,
com a natureza, com a sociedade e consigo mesmo dentro dos critérios de
equilíbrio ecológico, de respeito e amor à Terra e à comunidade de vida, de
solidariedade para com as gerações futuras e da construção de uma democracia
socioecológica sem fim.
Estou convencido de que somente um processo
generalizado de educação pode criar novas mentes e novos corações, como pedia a
Carta da Terra, capazes de fazer a revolução paradigmática exigida pelo risco
global sob o qual vivemos. Como repetia com frequência Paulo Freire: “A educação
não muda o mundo mas muda as pessoas que vão mudar o mundo”. Agora todas as
pessoas são urgidas a mudar. Não temos outra alternativa: ou mudamos ou
conheceremos a escuridão.
Não cabe aqui abordar a educação em seus múltiplos
aspectos tão bem formulados em 1996 pela Unesco: aprender a conhecer, a fazer, a
ser e a viver juntos; eu acrescentaria aprender a cuidar da Mãe Terra e de todos
os seres.
Mas este tipo de educação é ainda insuficiente. A situação mudada
do mundo exige que tudo seja ecologizado, isto é, cada saber deve prestar a sua
colaboração a fim de proteger a Terra, salvar a vida e o nosso projeto
planetário. Portanto, o momento ecológico deve atravessar todos os saberes.
Precisamos estar conscientes de que não se trata apenas de introduzir corretivos
ao sistema que criou a atual crise ecológica, mas de educar para sua
transformação. Isto implica superar a visão reducionista e mecanicista ainda
imperante e assumir a cultura da complexidade. Ela nos permite ver as
inter-relações do mundo vivo e as ecodependências do ser humano. Tal verificação
exige tratar as questões ambientais de forma global e integrada. Deste tipo de
educação se deriva a dimensão ética de responsabilidade e de cuidado pelo futuro
comum da Terra e da humanidade. Faz descobrir o ser humano como o cuidador de
nossa Casa Comum e o guardião de todos seres. Queremos que a democracia sem fim
(Boaventura de Souza Santos) assuma as características socioecológicas pois só
assim será adequada à era ecozoica e responderá às demandas do novo paradigma.
Ser humano, Terra e natureza se pertencem mutuamente. Por isso é possível forjar
um caminho de convivência pacífica. É o desafio da educação.
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