sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

BRASILEIROS NO PARAGUAI SÃO AMEAÇADOS

Homens, mulheres e crianças, alguns com facões, foices e machados nas mãos, preparavam-se para invadir terras agrícolas em poder de brasileiros, dispostos inclusive ao enfrentamento. A menos de um quilômetro de onde este grupo está acampado em barracas de lona, seguranças particulares, armados com escopetas, protegiam propriedades. Este era o clima no começo da noite de quinta 2, na região de Ñacunday, no Paraguai, fronteira com o Brasil.
A tensão, que desaparecera após pressão em dezembro para que os brasileiros abandonassem suas terras, voltou àquela região, no Alto Paraná, na semana passada. Desde meados de 2011, membros de um novo agrupamento de “sem-terra”, a Liga Nacional de Carperos (LNC), estão acampados em torno de uma faixa de fronteira com o Brasil na qual produtores de origem brasileira, chamados “brasiguaios”, cultivam soja, principal fonte da economia paraguaia. São cerca de sete mil caeperos, armados. Eles acusam os brasiguaios de terem praticado grilagem, ou seja, se apossado daquelas áreas de forma irregular. Os brasileiros contestam e dizem que as terras são legais.
A invasão, planejada para a madrugada de sexta, não foi concretizada, mas não há nenhuma garantia de que não venha a ocorrer. Um ato de violência pode transformar aquela região em um cenário de guerra, com consequências ilimitadas e, seguramente, muitas mortes. “Estamos à beira de um confronto violento. As forças policiais existentes na região são insuficientes para controlar a segurança das pessoas”, afirmou o senador Efrain Alegre, da Comissão Permanente do Senado brasileiro, que mandou uma delegação para o local, a cerca de 400 km de Assunção, nos limites dos departamentos Alto Paraná e Itapua.
Calcula-se que o Paraguai tenha 4 milhões de terras fiscais, também chamadas áreas públicas, que estariam sendo exploradas por 300 mil brasiguaios – dos cerca de 400 mil brasileiros que vivem no país vizinho, 250 mil estão na fronteira. Os carperos querem 167 mil hectares situados na faixa de fronteira com o Brasil, explorada pelo brasileiro Tranquilo Fávero, maior produtor individual de soja daquela país, que emprega três mil funcionários e que vive no Paraguai há 40 anos, com terras em 13 dos 17 Estados paraguaios. Aliás, a maior parte da produção agrícola paraguaia depende de brasileiros.
A nova reação dos sem-terra paraguaios é uma forma de pressionar o presidente Fernando Lugo. Os carperos acreditavam que a eleição de Lugo agilizaria o processo de devolução de propriedades brasileiras. Não foi o que aconteceu. O gesto mais forte do presidente foi demarcar áreas questionadas - o que acabou sendo um estopim (leia abaixo). Lugo assumiu o compromisso de evitar conflito, mas o contingente de policiais é bastante reduzido e a cada dia chegam ao local mais carperos.

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