domingo, 19 de fevereiro de 2012

ACUSAR OS OUTROS É UM MECANISMO DE OMISSÃO.

Faz algum tempo que um sério educador falava-me de uma doença que sempre existiu, mas que em nosso tempo está se tornando uma epidemia global. Dizia ele: “Trata-se da acusacionite aguda”. No decorrer do diálogo, o amigo educador insistia em provar que uma das piores barreiras para a educação e a libertação das pessoas é a mania de acusar os outros e até mesmo a Deus.

Não é difícil ouvir pais acusando filhos de irresponsabilidades e desvios, chegando até a desistir de dialogar e conviver com eles. Por sua vez, há filhos acusando pais de incompetência, ausência e indiferença. É assunto diário nos meios de comunicação social e nas ruas a acusação do povo a seus governantes. Em contrapartida, ouvem-se acusações de líderes políticos dizendo que o povo não participa nas decisões e nem da efetivação dos projetos.
 Em escolas também circulam acusações de alunos a seus professores e de professores a seus alunos. Quando aparecem problemas, quando a comunidade não anda e a sociedade não progride, é bem mais fácil ir à caça dos culpados do que participar, com responsabilidade, das soluções.
Acusar os outros é sempre um mecanismo de fácil omissão. Quando se quer justificar os próprios erros nada melhor do que jogá-los nos ombros de outros que não os fizeram. Acusar pode se tornar um caminho de anulação da responsabilidade e da capacidade de tomar decisões diante da vida.
É paradigmática a narrativa do pecado no primeiro livro da Bíblia. Após a queda, Deus pediu contas da responsabilidade e o homem respondeu: “A mulher que me deste por companheira, foi ela que me fez provar do fruto da árvore, e eu comi”. Então o Senhor Deus perguntou à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me, e eu comi”.Baseado nesta narrativa, analisando a tendência da humanidade de abdicar das próprias responsabilidades e fazer o eterno jogo de empurra, um grande teólogo americano da Igreja Batista, Harvey Cox, na década de 1960 escreveu o livro “Que a serpente não decida por nós”.
Além de acusar os outros, muitos acusam Deus como responsável de sua história de vida confusa e turbulenta. Necessitam dessa acusação como motivo para se negar à vida. Deus seria culpa pelo fato de terem sido criadas em tal situação familiar, de ter herdado tais características e de terem que carregar fardos tão pesados. Deus, enfim, as teria tratado com injustiça e deixado de cuidar delas.
Diante desse tipo de doença, a acusacionite aguda, precisamos começar por entender que este é um possível fenômeno humano. Porém, necessitado de superação no jogo da responsabilidade. Na realidade, existem exemplos de pessoas com o mínimo de possibilidades que fazem o máximo por assumirem atitudes responsáveis e investirem toda sua liberdade em construir dignidade.



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