sexta-feira, 29 de julho de 2011

INFORMAÇÃO DESVIADA

O cidadão brasileiro já não fica tão indiferente quando descobre que um político – ou um agente público, um burocrata estatal, devidamente apadrinhado por um político – andou surrupiando seu dinheiro. Ele se aborrece, ao menos um pouco. A opinião pública protesta e a imprensa, cada vez mais, noticia. Os organismos oficiais encarregados de investigar e julgar atos de corrupção põem-se a trabalhar – embora, admitamos, em matéria de malversação do erário a impunidade ainda seja uma sólida instituição nacional. De todo modo, nesse quesito, o Brasil caminha. A vida dos ladrões dos cofres públicos ainda é farta, compensadora, mas não é tão fácil como já foi. Alguma reação existe.

Agora, quando o assunto é informação pública, a atitude é totalmente outra. Se um governante conta mentira, pouca gente se incomoda. Se a assessoria de imprensa de um ministério dificulta o trabalho dos repórteres, acusando-os de “trabalhar para a oposição” – um bordão que nos acompanha desde o Império, mas se agravou a partir do século 20 –, nada a fazer. Os repórteres resignam-se e tentam outro caminho – ainda bem que não desistem. Se órgãos de Estado escondem dados essenciais para os direitos do cidadão, ora, o nosso senso comum dá de ombros.
Em síntese, o estado atual da nossa cultura política apresenta estas duas inclinações bem nítidas. A primeira é o empenho mediano, apenas mediano, em reduzir a dose, ao menos a dose, de desvio de dinheiro público. A segunda é a complacência integral de toda gente com a autoridade pública que, para preservar a própria imagem, sonega informações de interesse público. Aceitamos, assim, que a informação sob guarda da autoridade seja administrada segundo lógicas partidárias. Na nossa prática, ela não é um direito do cidadão, mas uma ferramenta do proselitismo governista.

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