sexta-feira, 22 de julho de 2011

FOME, DOENÇAS E DESMATAMENTO. INVASÃO DO CHACO PARAGUAIO.

O famoso naturalista britânico David Attenborough descreveu este inferno verde como "um dos últimos lugares selvagens que restam no mundo". Agora, no entanto, uma febre de compra de terras desflorestou um milhão de hectares, quase 10% desta região virgem, em apenas quatro anos, segundo imagens de satélites. Cruzam a fronteira principalmente brasileiros, investidores europeus e cristãos menonitas que arrasam os bosques com escavadeiras para transformá-los em pastos e exportar carne para a Europa, atraídos pelos altos preços do produto e por uma terra dez vezes mais barata do que em países vizinhos como Brasil e Argentina.

Em nenhum lugar essa mudança é mais sentida do que na pequena aldeia de Ijnapui, no coração do Chaco, uma espécie de ilha florestal rodeada por imensas fazendas de gado e uma das apenas três comunidades de índios ayoreo que decidiram voltar ao que resta de suas terras ancestrais. Cerca de 200 pessoas chegaram no local há cinco anos, fugindo do desemprego e da desnutrição infantil que afligem os miseráveis povoados de choças em torno das colônias dos brancos, onde vive hoje a maioria dos índios ayoreo.
"O desflorestamento é muito grave aqui. Este é o único pedaço de bosque que resta", comenta Etacore, resignado. "Daqui até 30 quilômetros adiante está tudo destruído. Do outro lado, há 10 quilômetros desmatados. Estão destruindo bosques agora mesmo. Estamos ilhados."

Isso reflete o que ocorre no restante do Chaco, afirma Elías Peña, um proeminente cientista paraguaio. Ele adverte que, nesse ritmo, os bosques chaquenhos desaparecerão em cerca de 20 anos. "No Paraguai, a lei florestal é obsoleta, remonta aos anos 1970 e permite desmatar 75% das terras. Além disso, o sistema legal é muito fraco", afirma.
"Isso permite que um proprietário de terras, por exemplo, desmate três quartos de um terreno de 100 mil hectares. Depois, ele vende os 25 mil hectares restantes a outra pessoa, que desmata 75% desta área, e assim por diante. Isso explica por que 90% da floresta do leste paraguaio desapareceram nos últimos 20 anos, e é isso o que está acontecendo no Chaco agora."

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