quinta-feira, 14 de julho de 2011

A HORA DA VERDADE DO ESTADO MÍNIMO

A carga fiscal nos EUA depois de três décadas de domínio neoliberal é de 24% do PIB. A plutocracia nada em isenções de impostos concedidas por sucessivos mandatos republicanos. 45 milhões de norte-americanos admitem passar fome porque a sua renda não sustenta o metabolismo. A carga fiscal americana é a mais baixa entre os países ricos e costuma ser festejada pela ignorância do jornalismo nativo como evidência de correlação entre economia forte e Estado mínimo. O disparate é tão grande que na Alemanha da insuspeita dama de ferro Angela Merkel a carga é de 37% do PIB. Na Dinamarca cujo padrão de vida e urbanidade são invejados pelas elites nativas em seu eterno giro pelas alfandegas, a taxa passa de 44%. Mas elas maldizem os 34,5% do Brasil, que acusam de financiar o que classificam como ‘gastança’, tipo Bolsa Família, postinho de saúde, subsídio à habitação popular, escola pública, aposentadoria rural etc. Nesse momento de transparência das coisas, o facho de luz da crise mundial mostra o capitalismo americano colapsado pela sua hora da verdade fiscal: a receita do país hoje é 11% inferior ao que se gasta (no Brasil o déficit é de 3% e eles espumam). A dívida pública já rompeu o limite de US$ 14 trilhões e os republicanos não aceitam elevar o teto do endividamento, sem o quê, a partir de agosto, fornecedores e rentistas aplicados nos títulos do Tesouro estão sujeitos ao calote. A ortodoxia republicanam cega e esperta ao mesmo tempo, faz braço de ferro com Obama: só dá mais corda fiscal para o Presidente se ele se comprometer a cortar US$ 4 trilhões de despesas até 2014, acuando assim sua reeleição num corner de cortes de gastos –inclusive na área de saúde, que Obama queria universalizar-- em plena campanha eleitoral. Eis o ponto a que nos leva a ideologia obscurantista do Estado mínimo. Se ela é obtusa o suficiente para colocar em risco a solvência da maior economia capitalista da terra, imagine do que não é capaz em latitudes tropicais? Esse é o teor de barbárie ideológica vendida pelo jornalismo demotucano como suflê dos deuses nas últimas décadas. É isso que está em questão nos EUA: de um lado, os mercados e a extrema direita republicana disposta a jogar o país no caos para manter o privilégio fiscal dos ricos às custas dos pobres; de outro, a tibieza de um presidente fraco, que levita sobre uma sociedade atomizada, corroída pela desindustrialização e o esfarelamento sindical e partidário, sendo assim o oposto do universo mobilizado que ancorou o New Deal nos anos 30. A salgar tudo com o sal grosso da regressividade de um Tea Party, uma opinião pública de classe média adestrada em seus medos e ignorância pelo noticiário da Fox News, do magnata Rupert Murdoch, cujas credenciais dispensam apresentações. Ah, sim, Obama acha que vai vencer a barbárie com disparos de Twiter.

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