Há verdadeira conspiração de bastidores para, na Rio+20, escantear os princípios
do desenvolvimento sustentável e os Objetivos do Milênio, e impor as novas teses
da “economia verde”, sofisma para encobrir a privatização dos recursos naturais,
como a água, e a mercantilização da natureza.
O enfoque dos trabalhos deverá
estar centrado não nos direitos do capital, e sim na urgência de definir
instrumentos normativos internacionais que assegurem a defesa dos direitos
universais de 7 bilhões de habitantes do planeta e a preservação ambiental.
Cabe aos governos reunidos no Rio priorizar os direitos de sustentabilidade,
bem-estar e progresso da sociedade, entendidos como dever de garantir a todos os
cidadãos serviços essenciais à melhor qualidade de vida. Faz-se necessário
modificar os indicadores de desenvolvimento, de modo a levarem em conta os
custos ambientais, a equidade social e o desenvolvimento humano (IDH).
A
humanidade não terá futuro sem que se mudem os padrões de produção, consumo e
distribuição de renda. O atual paradigma capitalista, de acumulação crescente da
riqueza e produção em função do mercado, e não das necessidades sociais, jamais
haverá de erradicar a miséria, a desigualdade, a destruição do meio ambiente.
Migrar para tecnologias não poluentes e fontes energéticas alternativas à fóssil
e à nuclear é imperativo prioritário.
Nada mais cínico que as propostas
“limpas” dos países ricos do hemisfério Norte. Empenham-se em culpar os países
do hemisfério Sul quanto à degradação ambiental, no esforço de ocultar sua
responsabilidade histórica nas atividades de suas transnacionais em países
emergentes e pobres. Há que desconfiar de todas as patentes e marcas
qualificadas de “verdes”. Eis aí um novo mecanismo de reafirmar a dominação
globocolonialista.
O momento requer uma convenção mundial para controle das
novas tecnologias, baseada nos princípios da precaução e da avaliação
participativa. Urge denunciar a obsolescência programada, de modo a dispormos de
tecnologias que assegurem o máximo de vida útil aos produtos e beneficiem a
reciclagem, tendo em vista a satisfação das necessidades humanas com o menor
custo ambiental.
À Rio+20 se impõe também o desafio de condenar o controle do
comércio mundial pelas empresas transnacionais e o papel da OMC (Organização
Mundial do Comércio) na imposição de acordos que legitimam a desigualdade e a
exclusão sociais, impedindo o exercício de políticas soberanas. Temos direito a
um comércio internacional mais justo e em consonância com a preservação
ambiental.
Sem medidas concretas para frear a volatilidade dos preços dos
alimentos e a especulação nos mercados de produtos básicos, não haverá
erradicação da fome e da pobreza, como preveem, até 2015, os Objetivos do
Milênio.
Devido à crise financeira, parcela considerável do capital
especulativo se dirige, agora, à compra de terras em países do Sul, fomentando
projetos de exploração de recursos naturais prejudiciais ao meio ambiente e ao
equilíbrio dos ecossistemas.
A Rio+20 terá dado um passo importante se
admitir que, hoje, as maiores ameaças à preservação da espécie humana e da
natureza são as guerras, a corrida armamentista, as políticas neocolonialistas. Precisamos maior controle da
publicidade comercial, da incitação ao consumismo desmedido, da criação de
falsas necessidades, em especial quando dirigidas a crianças e jovens. Educação
e ciência precisam estar a serviço do desenvolvimento humano e não do mercado.
Uma nova ética do consumo deve rejeitar produtos decorrentes de práticas
ecologicamente agressivas, trabalho escravo e outras formas de
exploração.
Enfim, que se faça uma reavaliação completa do sistema atual de
governança ambiental, hoje incapaz de frear a catástrofe ecológica. Um novo
sistema, democrático e participativo, deve atacar as causas profundas da crise e
ser capaz de apresentar soluções reais que façam da Terra um lar promissor para
as futuras gerações.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário