terça-feira, 5 de junho de 2012

IMAGINE SÓ: COMER PAPEL...

Um dia destes,  vi e vivi um fato como nunca havia imaginado. Participando de um programa de rádio, coordenado por famoso comunicador, presenciei uma entrevista dele com uma menina de seis anos. A idade já era um fator que chamava atenção, a presteza nas respostas mais ainda e o assunto da entrevista era simplesmente dramático.
A reação dos ouvintes foi imediata. A presença dos funcionários da rádio também confluía para o local e a atenção de todos foi grande. Qual a razão desta curiosidade e mobilização? O quadro geral descrito pela menina foi um inédito cenário de cinema.
Acompanhavam a menina a mãe, em lágrimas, e mais dois irmãozinhos. Tudo começou quando o pai e marido os abandonou num barraco em ruínas. Por pior que fosse, ao menos era um recanto de proteção, mas por não pagarem mais o aluguel foram despejados pela justiça injusta.
No desalento e na miséria, a fome começou a atormentar a mãe e as crianças. Daí vem o assunto da menina entrevistada. Depois de um dia sem qualquer alimento, passando a noite em companhia da fome, acordou de manhã para ir à escolinha do bairro e não tinha sequer um pedaço de pão. Por eventualidade, a menina de seis anos encontrou uma revista que trazia, numa das páginas, a fotografia de uma lasanha.
A imaginação da menina, aguçada pela fome e atraída pela oferta e a beleza da propaganda, não hesitou em rasgar a página para começar a comê-la, como se estivesse se alimentando da lasanha. Por desgraça, o papel e a tinta provocaram nela uma intoxicação e a criança, além da fome, ficou muito mal.
Escutando e vendo o desembaraço da menina na hora da entrevista, o fato se tornou motivo de comentários amplos em muitos ambientes e meios de comunicação. Sorte que a boa fama do comunicador e a situação comovente criaram uma reação positiva que resultou em ajuda imediata e encaminhamentos de acolhida e socorro.
Este episódio, por ser inédito, chama atenção! Ao mesmo tempo se faz sentir o desafio para situar as raízes profundas destas problemáticas e as possíveis soluções, como: o investimento na educação da liberdade na responsabilidade, o resgate da família como santuário da vida, a atenção à problemática social que continua desencadeando a cultura da morte, a retomada da política conforme a sua natureza, o apoio aos mecanismos de inclusão social e, acima de tudo, a educação e a prática da solidariedade.
Graças a Deus, ainda existe sensibilidade pelos dramas humanos no meio de nosso povo. Importa, como nunca, organizar, com seriedade e determinação, a caridade como serviço em favor da vida e como caminho de mudança, onde o pobre não é mais atendido por “pena”, mas por direito e por acreditar que ele possa ser sujeito de sua história.

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