Lembro que, há uns dez anos, um conhecido escritor
registrou uma corajosa observação referente ao comportamento do povo brasileiro.
Dizia ele: “Em geral, a nossa gente sabe bem se divertir, mas nós não somos um
povo alegre”. Alguns levaram por ofensa, outros continuaram analisando e
concordaram. Usufruir alguns momentos de alegria é diferente do que ser alegre.
Tudo vai do modo como nos contentamos com a vida.
A superficialidade do
viver humano contenta-se com pouco, e o pouco não tem duração, a não ser o
momentâneo. Ter um instante de sadia diversão faz bem! É uma necessidade! Porém
não é o bastante para garantir uma vida alegre. A alegria é um sentimento que dá
plenitude à vida e brota da satisfação das aspirações profundas do coração
humano. De certo modo ela é indescritível, mas, quando vivida, garante uma
lembrança mais ou menos forte, segundo sua veracidade e intensidade.
Existem
temperamentos que, ao natural, são mais extrovertidos e alegres e existem outros
que são mais introvertidos e sérios. Tanto para uns como para outros o desafio é
ir além do natural para favorecer a justa medida entre a euforia leviana e a
seriedade pesada. Humanamente, a alegria é sempre contagiante e libera a
capacidade de aproximar. A tristeza e o fechamento, porém, tendem a distanciar e
isolar.
Os chineses cultivam um princípio simples para o êxito de certos
empreendimentos: “Se tu não sabes sorrir, não deves abrir uma loja!” Daí se
confirma o que todos sabemos: “Se o coração é teu, o rosto é dos outros”. A
alegria é um precioso valor humano para favorecer a tudo e a todos. Para tanto,
tem que ser cultivada.
Havia numa aldeia dos sertões deste Brasil um idoso
feliz. Todos o admiravam pela sua capacidade de sorrir e animar os que dele se
cercavam. Era conhecido e estimado por todos pela sua contagiante alegria.
Passavam os anos e ele continuava jovial e feliz, mesmo com os limites da
idade.
Dois jovens universitários, sabendo deste personagem querido, num
certo dia foram entrevistá-lo e logo perguntaram a respeito do segredo de sua
permanente alegria. Com um sorriso característico, o velho disse: “Tudo é muito
simples! Meu segredo é que aprendi a estar todo e por inteiro onde eu estou e no
que eu faço. Quando durmo, eu durmo; quando me alimento, eu me alimento; quando
trabalho, eu trabalho. Vocês, em geral, quando estão acordados, querem dormir;
quando estão trabalhando, já estão querendo descansar; quando vão estudar, ficam
com a cabeça pensando no esporte. Não tem coisa pior do que estar sempre
deslocado”.
Estar por inteiro e jogar-se de todo no lugar e na tarefa que nos
envolve; dar tudo de si para o momento que se vive; imprimir em tudo as marcas
da bondade e do bem; cultivar no presente relacionamentos de solidariedade e
cuidados de respeito; saber que colheremos amanhã o que semeamos hoje; ser
autêntico no dizer, no ser e no fazer, certamente garantirá uma vida de alegria
e rica de sentido.
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