quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ESCUTANDO CONVERSA DE BEBADO

Poucas são as pessoas que toleram conversa de bêbados! São difíceis de serem ouvidos, porque eles se tornam chatos! E o que é pior. Eles não percebem que se tornam chatos! São insuportáveis. Dia desses, eu estava sentado em um bar. É nesses lugares, onde se entra para aguardar uma visita de interesse comercial, ou simplesmente de amizade. Nunca se imagina que se pode passar por constrangimento, ouvindo histórias, com palavreados de baixo calão. Como eu já estava lá sentado, tomando meu suco de laranja, de repente me vi praticamente sentada nas proximidades deles. Ora, bar é para isso mesmo, para que pessoas amigas, ou de interesse comum se reúnam e troquem idéias, Decidi que eu permaneceria ali. Não só porque eu já estava lá, mas havia marcado uma reunião com amigos lá também. Não mais que de repente, o bêbado levantou a voz e dominou o ambiente. Falava alto. Como se ele fosse a pessoa mais importante do grupo. E as histórias eram de arrepiar os mais assíduos freqüentadores do baixo meretrício de antigamente. Porque há muito tempo eu não ouvia dizer que esse tipo de conversa ainda pudesse existir! Falavam sobre mulheres frutas! E ali saiu de tudo, melão melancia, morango, pêra, melão, uma feira completa e para todos os gostos. E se mulher fruta, hoje faz parte do cardápio masculino, o jeito de comê-las, depende do paladar de cada um. Uns tem gosto mais ou menos apurado e outros têm sensibilidade demasiadamente grosseira para comê-las, ou saboreá-las decentemente, ou quando muito, comer desfrutando do sabor e do tempero. Discutiu-se o cheiro exalado, desde arruda até o alecrim. Mas a predominância era do gosto e cheiro de pimenta malagueta. De duas uma. Ou eu me levantava, e saia de cabeça baixa , ou agüentaria mão. Afinal, decidi que eu não pertencia a esse grupo, objeto das conversas.  E que a bem do interesse literário, eu deveria permanecer calado e atento tentando acompanhar o rumo da conversa, porque ali estava presente, a conversa de um grupo ao qual, eu não pertencia nem eles, ao meu grupo. E o meu interesse poderia ser apenas literário, sociológico, psicológico, e na pior das hipóteses, o interesse em acompanhar até que ponto, os caminhos de um cérebro alterado pelo álcool poderia levar o ser humano a regredir como conceito humano, lúcido ou na pior das hipóteses, até que ponto eles desceriam na escala humana de vivencia emocional para tamanha degradação do sentimento, das emoções, e dos meandros do coração que embrutecido e animalesco se deixa levar para tanta baixaria. Aquele palavreado semitonado, chegando a quase uma oitava mais alta, chamava a atenção de todos para as suas qualidades masculinas e chegou-se a ponto de se discutir o tamanho dos órgãos sexuais. E chegaram ao cúmulo, de contar uma das suas brincadeiras sexuais de adolescentes, para ver quem cuspia mais longe.

Foi ai que dei o cheque-mate!
O bêbado chato se levantou e fez a clássica pergunta!
-Nós estamos incomodando com a nossa conversa!
- Não me incomodaram, porque aproveitei a conversa de vocês e fiz uma crônica excelente!
Não ficou nenhum na sala do bar. A debandada foi geral! Como se eu tivesse acendido um estopim para explodir uma bomba no meio do salão! Cronista é assim. Não desperdiça nenhum assunto para se deliciar escrevendo! Agüenta até conversa de bêbado porque ali pode estar uma preciosidade literária. Cronista não perde oportunidade para fazer aquilo que para ele é vida! Escrever é viver o dia a dia!

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