segunda-feira, 13 de junho de 2011

NA BUSCA DE SONHOS...

Quase 200 milhões de pessoas no mundo vivem fora do local de origem; o Brasil vira destino.


Pode haver choques de conceitos, alguns restringindo a definição de acordo com o espaço geográfico do deslocamento, outros formando palavras compostas, mas o que ninguém discute é que cada vez mais pessoas estão trocando seu lugar de origem por outro – seguindo sonhos de uma vida melhor, fugindo de conflitos, expulsos da terra...
A classificação mais usual para migrante é aquele se move dentro do país - o imigrante seria quem chega a outro país e o emigrante é o que sai do país. Mas existem outras definições, como migração externa (de um país para outro), interna (dentro do mesmo país), migração definitiva (não sai mais do local para onde foi), temporária (tempo determinado), migração espontânea (por vontade do migrante), forçada (por imposição externa, que pode incluir os refugiados). As divergências quanto à denominação evaporam quando um outro subtema entra em cena: os efeitos das migrações. Porque ninguém duvida que elas transformam cidades, Estados, países e até continentes – este último, caso da relação África-Europa ou Europa-América, por exemplo.
No plano global, outra certeza: o mundo nunca teve tanta gente vivendo fora do país de origem. A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula em 190 milhões o total de migrantes. E o movimento não cessa, pelo contrário, é intensificado por guerras, catástrofes climáticas e outros fenômenos.
No cenário brasileiro, a mobilização humana faz parte da história do país. Em 1980, estudo de José O. Beozzo concluiu que 40 milhões de brasileiros não viviam no município onde haviam nascido. Esse número dobrava quando eram consideradas as transferências dentro de um mesmo município, do campo à cidade...
O dado mais recente é do IBGE/PNAD/2005/2006. De uma população de 184,6 milhões de pessoas, 74,2 milhões não moravam no município de origem e 30,1 milhões não viviam no Estado em que tinham nascido. Nesse segundo item, destaque para o Distrito Federal: 53,3% não eram do local. Roraima tinha a metade de seus moradores vindos de outros Estados; Rondônia, 47,4%; Mato Grosso; 42,5%; São Paulo, 24,3%. No Sul, o Paraná aparece com 18,1% de seus habitantes oriundos de outros Estados, Santa Catarina com 16,1% e o Rio Grande do Sul com apenas 4,4% - o mais baixo índice entre todos.
Não há lei que obrigue as pessoas a permanecer onde nascem, muito menos regras que bloqueiem caminhos e a tentativa de realizar planos. É até bom aspirar novos patamares, o que implica, muitas vezes, mudanças de endereço. O ruim, e não raro dramático, é quando alguém é obrigado a deixar para trás parentes, amigos, as raízes enfim, e seguir viagem a procura de um emprego, que com frequência acaba no subemprego, na exploração ou na marginalidade. A conquista da sobrevivência fez brasileiros cruzarem o país em praticamente todas as direções. Desbravando fronteiras agrícolas ou empurrados por ciclos econômicos, milhões de pessoas colonizaram áreas, construíram cidades, misturaram sotaques e culturas. Movimentaram a demografia a tal ponto de o migrante de ontem acolher o de hoje.
Enquanto as rotas se multiplicam, mudam as direções – e os comportamentos. A Europa, de onde partiram dezenas de milhões de pessoas nos séculos XIX e XX, não quer mais receber migrantes e refugiados. O Brasil, de onde embarcaram milhões de pessoas, virou destino para vizinhos e até haitianos. A economia faz girar pessoas, atraindo e alimentando sonhos, mas também destrói projetos de vida. As periferias das grandes cidades estão repletas de famílias que viram a expectativa de uma nova vida se transformar em uma realidade

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