segunda-feira, 16 de agosto de 2010

UM NOVO OLHAR SOBRE O BURRO

O mínimo que se pode dizer do burro é que ele é um injustiçado. A ele se atribuem a ignorância e a teimosia. A fama acaba contagiando os sinônimos. Assim como existe a burrice, existe o asno e a asneira. O máximo que lhe é concedido: o trabalho. Por vezes, as pessoas admitem: trabalhei como um burro. Trata-se de uma avaliação preconceituosa. Na realidade, o burro não é burro. E nada tem a ver com a burrice dos humanos.

Bernardino Leers, um frade franciscano holandês, que há cinquenta anos trabalha no Brasil, escreveu um livro apontando as muitas qualidades do animal. Título do livro: A moral do burro. Vindo da Europa para as montanhas de Minas Gerais, o religioso começou a visitar as comunidades no lombo de um burro: “Fiel companheiro, era um burro manso, que teve muita paciência, ensinando o frade novato”. O burro também foi elogiado pelo Prêmio Nobel de Literatura de 1956, o espanhol Juan Ramon Jiménez. É dele a obra prima: Platero e eu. Platero é um asno bom, que come flores com o pasto e bebe estrelas, refletidas no balde de água.
Algumas lições que o burro nos ensina: ele caminha com segurança, descendo ladeiras íngremes, escolhendo o melhor lugar para atravessar um rio, coisas que nem sempre o cavalo sabe fazer com segurança. Ele conhece o caminho para retornar à casa e não se deixa impressionar com a pressa de seu dono. O burro presta serviços de maneira digna, é manso com todos, sabendo ser compreensivo com crianças e idosos. O burro não é vaidoso, não se assusta com foguetes ou grandes multidões. Come apenas o necessário e não escolhe o que comer. Qualquer coisa serve.
O burro não peca, não fala, não mente, sabe onde pisa, usa sempre a calma, contorna obstáculos. Ele não tem pressa e não perde de vista seu destino. É leal ao seu dono, mesmo pobre, idoso ou doente. Não se queixa do trabalho e da fadiga. E todas as dificuldades não o fazem perder a ternura.
Ele poderia ser vaidoso, mas não é. Muitas vezes tem ocupado lugares importantes na história do homem. No primeiro Natal, quando não havia lugar para o Menino, o burro o acolheu em sua pobre casa, uma estrebaria. Foi ainda ele quem o ajudou na fuga para o Egito e que carregou Jesus na entrada triunfal em Jerusalém. O burro foi também amigo de Santo Antônio. E Francisco de Assis chamou-o com o doce nome de irmão.
Na realidade, o burro não é tão burro como imaginamos. Nem teimoso. Ele parece entender muito de amor, pois faz de sua vida um serviço. Não é vaidoso, não espera aplausos, não se irrita com as críticas, mesmo injustas. Ele é competente e sabe o seu lugar. O mundo seria melhor se o homem imitasse suas atitudes, fazendo menos burrices.

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