quarta-feira, 25 de abril de 2012

O ABSURDO E O SENTIDO


Sísifo, filho de Éolo, rei da Tessália, é um dos personagens mais fascinantes da mitologia grega. Foi considerado o mais astuto dos mortais. Sua maior façanha foi aprisionar a morte. Durante algum tempo nenhum homem morreu. Mas houve a vingança dos deuses e Sísifo foi condenado a um rotineiro e absurdo castigo por toda a eternidade. Sua pena era rolar uma pesada pedra montanha acima. E quando se aproximava da meta, a pedra rolava até o ponto de partida e ele tinha de recomeçar sua tarefa, sem esperança, para sempre.
Em cima dessa lenda, o escritor francês Albert Camus - O Mito de Sísifo - construiu toda uma teoria sobre o absurdo da vida: uma luta sem esperança, a inutilidade da vida, um fatalismo sem redenção. Mesmo assim, está tudo bem, dizia Camus. A mesma linha é seguida por outro filósofo francês, Paul Sartre, quando retrata a vida como um grande palco, onde somos jogados. Não sabemos o enredo, nem o nosso papel. Sartre insiste: somos viajantes de um trem que não sabemos para onde vai. Nem mesmo temos o bilhete da passagem.
Contra o absurdo de Camus e Sartre, a esperança cristã mostra que a vida tem sentido. O Evangelho mostra que é sempre possível recomeçar. A fé ri-se das impossibilidades. O cego começa a ver, o surdo a ouvir, o paralítico a andar, a mulher adúltera recupera sua dignidade e ao morto é devolvida a vida. Jesus, diante de um pai aflito, garante: “Tudo é possível para aquele que tem fé”. Surpreendente é também a resposta do oficial: “Eu creio, Senhor, mas ajuda minha falta de fé”.
A história humana e a história de cada um trazem a marca do sofrimento. As conquistas são sempre transitórias, a cada dia é preciso recomeçar. A pedra de muitas conquistas rola pela montanha e por isso se torna necessário recomeçar. O mal se torna desafiante sempre que a pedra rola montanha abaixo.
Há dois eixos fundamentais na luta do cristão. O primeiro deles: não estamos sozinhos. Cristo prometeu estar conosco todos os dias até o fim do mundo. O segundo ponto refere-se à dignidade da luta. Felizes os que morrem nas grandes batalhas, mesmo sem terem visto a vitória. O cristão tem compromisso com a luta e não com o triunfo. Cristo, no Grande Dia, não nos questionará sobre o sucesso, mas sobre a luta. Não importa que a pesada pedra esteja quase no topo ou na planície. Importa que morte nos surpreenda em meio à luta. Teremos a tranquilidade de esclarecer: embora servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer, combatemos o bom combate.

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