Avida não reserva a ninguém cadeira cativa. Rei posto, 
rei deposto, a uns faz gosto, a outros, desgosto. César era imortal e, no 
entanto, pereceu. O Terceiro Reich duraria mil anos e não completou 20. Os 
esbirros da ditadura militar brasileira acreditavam que ela seria perpétua e, 
agora, temem a Comissão da Verdade.
Ressalto essa finitude humana a propósito 
das quedas, semana passada, de Ricardo Teixeira, após 23 anos na presidência da 
CBF; Romero Jucá, o “eterno” líder do governo no Congresso (serviu, com a mesma 
subserviente fidelidade, aos governos FHC, Lula e Dilma); e Cândido Vacarezza, 
líder do PT na Câmara dos Deputados.
Soma-se a essa dança das cadeiras a 
decisão do PR de romper com o governo Dilma e passar à oposição. 
O Brasil é 
uma nação republicana que ainda não exorcizou sua alma monárquica. Perdemos a 
coroa, mas não a majestade. Ainda perduram em nossa cultura política feudos e 
donatários. Isso está impregnado na alma daqueles que, picados pela mosca azul, 
se julgam insubstituíveis nos cargos que ocupam. E se espantam e se queixam 
quando um poder mais forte do que o deles os remove da função que desempenham. 
Só então se dão conta de sofrerem da síndrome de Vargas: a identificação entre 
pessoa e função. Uma não vive sem a outra. Por isso o presidente Vargas preferiu 
atirar contra o próprio coração a deixar o Palácio do Catete como cidadão 
comum.
O caso do PR é de outra ordem na esquizofrenia política. Ele, como 
tantos outros partidos, se julga no direito de botar cerca e cadeado em torno de 
um ou mais ministérios. 
Aliás, a culpa não é do PR por inebriar-se por tão 
alta pretensão. A culpa é da falta de reforma política e do modo como é 
costurada, hoje, a base de apoio ao governo. Não se exige consenso em torno de 
um Projeto Brasil. Não se requer afinidade ideológica. Não se priorizam pautas 
de um planejamento estratégico. Tudo é feito à base do toma lá, dá cá. Em moeda 
eleitoral. O governo quer votos; o aliado quer verbas e mais poder.
Como 
alertou Maquiavel, há procedimentos que dão poder, mas não glória. E num país 
que desde a ditadura ainda não recuperou sua autoestima política, não é de se 
estranhar que, em tempos de neoliberalismo, quando amealhar fortuna desponta 
como ideal de vida, haja tanta corrupção, nepotismo e maracutaias no jogo do 
poder.
Já que citamos Dom Pedro II, vale reproduzir o que escreveu ele em 
carta de 15 de janeiro de 1889: “A política de nossa terra, cada vez me repugna 
mais compreendê-la. Ambições e mais ambições do que tão pouco ambicionável é”. 
E não há maestrina da Casa Civil para evitar que se repita, no jogo 
político, a canção de Tom Jobim e Newton Mendonça: “Quando eu vou cantar você 
não deixa ∕ E sempre vem a mesma queixa ∕ Diz que eu desafino, que eu não sei 
cantar ∕ Você é tão bonita, mas tua beleza também pode se enganar. ∕ Se você 
disser que eu desafino, amor ∕ Saiba que isso em mim provoca imensa dor...”
A 
dor de nutrir pretensões abusivas e acreditar que só os próprios ouvidos escutam 
a doce resposta positiva que, todas as manhãs, é suscitada pela inquieta 
interrogação: “Espelho meu, espelho meu, existe alguém mais 
lindo do que 
eu?” 
Há poder e poder. Poder inerente ao cargo que se ocupa ou aos bens que 
se possui, e poder inerente ao caráter e∕ou carisma da pessoa. Esses últimos, 
infelizmente, são exceção. E como têm luz própria, eles nos iluminam mesmo ao 
não estarem mais entre nós, como são os casos de Sócrates, Confúcio, Buda, os 
profetas do Antigo Testamento, Jesus, Francisco de Assis, José Martí 
e Che 
Guevara.
Todos eles abraçaram o poder como serviço imbuído de idealismo e 
calcado em princípios éticos e morais. Buscaram não a própria glória, mas a dos 
outros, dispostos a dar a vida pela coerência assumida. 
Esta é uma opção 
ética da qual nenhum político foge, ainda que nem tenha consciência do quanto 
ela é inevitável: empoderar-se ou empoderar a coletividade. Os primeiros usam a 
democracia em benefício próprio. Os segundos a fortalecem e glorificam.
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