terça-feira, 3 de abril de 2012

FESTEJAR É VENCER A SEPARAÇÃO ENTRE PRESENTE,PASSADO E FUTURO

As festas se repetem. E de tanto repeti-las, parece que vão perdendo o sentido. Para bem celebrar a Páscoa é necessário recuperar o sentido do tempo e, nele, o sentido de cada festa. No agitado mundo moderno, está cada vez mais difícil encontrar tempo para festejar. O trabalho consome a maior parte de nosso tempo e de nossas energias. Levantamos cedo, fazemos nossa higiene e tomamos café correndo para apanhar o transporte que conduz ao trabalho, onde permanecemos todo o dia sem perder tempo para, no fim da tarde, voltar outra vez para casa apressados, descansar e, no dia seguinte, começar tudo de novo... Para a maioria dos jovens, a essa correria do trabalho soma-se a necessidade de estudar. Para muitas mulheres, às exigências do emprego junta-se a obrigação de cuidar da casa, do marido e dos filhos! A vida parece uma corrida contra o tempo que, como o deus Chronos da mitologia grega, nos quer devorar...
No meio de toda essa correria, o domingo aparece como um respiro, um tempo de descanso, de não ser obrigado a sair correndo, desligar o despertador e poder dormir um pouco mais... Mesmo assim, muitas vezes temos que usar o domingo para recuperar o atrasado que não se pôde fazer durante a semana. E lá se vai o tempo de descanso... Ainda bem que de vez em quando o calendário nos brinda um “feriadão”, uma folga um pouco maior para descansar. E saímos correndo para a praia ou para o interior para “não perder o tempo”!... Tão preocupados estamos em aproveitar bem o feriadão que nem nos damos tempo para perguntar o porquê deste tempo maior de descanso. É simplesmente um “feriadão”, uma interrupção no ritmo cotidiano de trabalho, de estudo. A razão do feriado, o que se está comemorando neste dia, é o que menos importa... Basta saber que temos tempo para desfrutar ou, simplesmente, não fazer nada!
Reaprender - No meio de toda essa correria, até mesmo as festas cristãs passaram a ser “feriadões”: feriadão de Páscoa, de Corpus Christi, de Aparecida, de Finados, de Natal. Fica o nome, mas ele é desvinculado da comemoração à qual faz referência. Com efeito, comemorar significa trazer à memória algo de importante que aconteceu. E fazê-lo de tal forma que aquilo que aconteceu no passado continue vivo e atuante no presente. Quando comemoramos o aniversário de uma pessoa, nos alegramos com uma vida que começou a dez, trinta, sessenta anos... e que continua viva. Normalmente, depois que uma pessoa morre, deixamos de comemorar seu aniversário porque a sua vida já terminou. Passamos a comemorar a morte dessa pessoa para dizer que a sua ausência, apesar do tempo que passa, continua a marcar nossas vidas. Ou seja, é uma ausência que continua presente.
“Comemorar” é uma outra forma de viver o tempo. Não é simplesmente deixar-se levar pelos ponteiros de relógio ou pelos numerozinhos do display digital que nos dizem que os segundos voam acumulando minutos que somam horas e juntam dias em semanas que formam meses e nos fazem ter a sensação de que nem iniciamos o ano e ele já está terminando - e que a nossa vida está passando sem que tenhamos tido a oportunidade de desfrutá-lo. O tempo assim experimentado nos consome, nos devora, sufoca, mata.
No mundo moderno da correria do tempo que parece cada vez mais acelerado, sentimos cada vez mais a necessidade de resgatar a capacidade de voltarmos a ser senhores do nosso tempo. Voltar a ver os dias de nossa vida não como obrigação, mas como festa. Festa é a capacidade de suspender o tempo do relógio e viver a intensidade do momento. A verdadeira festa é aquela que não tem hora para começar nem duração delimitada ou tempo para terminar. É a convivência gratuita em que dispensamos relógios e simplesmente desfrutamos o estar juntos. Festejar é ser capaz de vencer a separação entre passado, presente e futuro e viver a alegria da presença das pessoas com quem partilhamos nossas vidas, tenham elas vivido há muitos anos, estejam agora vivendo ou viverão no futuro.

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