terça-feira, 17 de abril de 2012

A POSTURA DE CONTA-GOTAS



Deixando de lado sua fobia antirreligiosa, num momento de sinceridade, Voltaire admitiu: o universo me encanta! E continuou seu raciocínio: não posso admitir que exista um relógio sem existir um relojoeiro. As cores deslumbrantes, as sementes, as frutas, as aves, os animais, as estrelas, os lírios, a água, o vento, a neve, tudo fala do supremo artífice, que chamamos de Pai.
No capítulo das coisas maravilhosas, o perfume ocupa um lugar especial. Conhecidos há milhares de anos, estão longe de serem superados ou substituídos por algo melhor. Dois mil anos antes do nascimento de Cristo, os faraós do Egito e sua corte difundiram seu uso trazendo um agradável toque de frescor ao clima quente e árido do deserto. Tinham igualmente livre trânsito nos suntuosos palácios reais. A história nos revela que a primeira greve da história aconteceu em função dos perfumes. Descontentes com a recompensa recebida, os soldados do faraó Seti pararam de fornecer unguentos aromáticos.
O perfume tem presença marcante no Evangelho. Os evangelistas falam da mulher de nome Maria, que invadiu a casa de um fariseu, onde acontecia um banquete. “Tomando quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia de perfume do bálsamo”.
Os perfumes mais selecionados são usados com parcimônia: uma ou duas gotas. Maria derramou todo o conteúdo do frasco. Não segurou nada para si, quebrou o vaso. Mesmo à distância, podemos imaginar o escândalo do fariseu que convidara a Jesus. Num gesto de ternura e infinita beleza erótica, Maria enxugou os pés de Jesus com seu cabelo. E Jesus colocou um fecho de ouro no episódio: “Onde quer que o Evangelho venha a ser proclamado, também o que ela fez será contado em sua memória”.
Nossos gestos, quase sempre, são tímidos. No máximo usamos uma ou outra gota de nosso amor a Deus e ao próximo. E justificamos nossa atitude como Judas, falando de possível ajuda aos pobres. Este não foi o raciocínio de Teresa de Calcutá, Charles de Foucauld, Francisco de Assis, Teresa de Jesus, Luther King, Dom Hélder Câmara e outras personalidades que jamais esqueceremos.

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