quarta-feira, 20 de março de 2013

NOS ESCOMBROS APARECEM TESOUROS

Este título me faz lembrar uma história muito singular ocorrida num pequeno vilarejo onde os moradores, além de pobres e abandonados, viviam em permanentes conflitos entre vizinhos. As lideranças, inclusive o padre, tentavam aproximar as pessoas para a reconciliação e o diálogo, mas não conseguiam obter qualquer resultado. O empobrecimento ia deixando a localidade num abandono total. 
Num determinado dia, a pequena população foi surpreendida por uma notícia mirabolante. Chegou à praça um ancião desconhecido e se pôs a falar de um determinado poço profundo, situado num canto da vila, onde estaria um tesouro de inestimável valor. Como o assunto despertasse atenção e interesse da população, logo começaram as especulações para conhecer o local e encontrar um jeito para se apropriar do tesouro.
Como tudo era cercado de mistério, começaram as tratativas da comunidade para retirar o tesouro do fundo do poço. Enquanto iam combinando a aventura, iam parando de brigar. O único assunto da vila era o tesouro do poço. Enfim, surgiu uma liderança que definiu a modalidade da pesca. Com uma longa corda e ganchos fortes numa extremidade começaram a operação. Depois de muitas tentativas, um grande grupo na outra extremidade ia se empenhando para alcançar o tesouro.
No primeiro dia nenhuma novidade, no segundo dia, a vila toda estava reunida. Uns trabalhando na ponta da corda e outros torcendo para que tudo desse certo. Finalmente os ganchos prenderam um objeto pesado e estranho. Mais gente ia se unindo na ponta da corda, a ansiedade aumentava e a captura do tesouro estava garantida. Porém quando chegou ao alcance das mãos conferiram que se tratava da carcaça esmagada de um carro antigo.
Diante do evidente fracasso, todos sentaram desiludidos. Foi então que o líder da operação gritou: “Gente, o tesouro está no outro lado da corda!” Qual seria? Certamente, a união da comunidade que, em seguida, tomou outro rumo em todos os sentidos, reabilitando a paz e o verdadeiro progresso.
A madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 registrou a inesquecível tragédia no coração do Rio Grande. O mundo todo sentiu-se atingido pela dor nos 241 jovens vitimados pelo incêndio da boate Kiss. Na medida em que o tempo passa, vão aparecendo os tesouros situados no meio dos escombros. 
Com evidência podemos nomear alguns tesouros: o enfrentamento heroico de alguns até morrer para salvar outras vidas; os gestos de solidariedade expressos na acolhida, no socorro, na doação de sangue, na garantia de remédios, na prontidão de profissionais da saúde, nas orações e concentrações ecumênicas, no gesto materno da presidente da República etc...
São tantos os tesouros que surgiram no meio dos escombros que só o tempo poderá valorizar com justeza. Depois de alguns dias do trágico acontecimento, familiares e parentes das vítimas reuniram-se para discutir a criação de uma associação que represente seus interesses humanitários. O objetivo do grupo, apoiado pela defensoria pública do Rio Grande do Sul, é garantir apoio psicológico e jurídico às famílias. No outro lado da corda está o tesouro!

Nenhum comentário:

Postar um comentário