sexta-feira, 1 de março de 2013

ENTRE O SONHO E A REALIDADE

Numa pequena aldeia, ao pé da montanha, vivia um senhor muito sereno. Ele amava seu sítio, o pequeno riacho, as árvores e as flores. Amava sobretudo um cavalo branco. Recusou muitas propostas por ele. Não o venderia por preço algum. Um dia o cavalo foi roubado ou fugiu e os vizinhos foram solidarizar-se com ele e comentavam: é muito azar! Azar ou sorte, dizia ele, não sei. Passou-se algum tempo e o cavalo retornou acompanhado de seis belos cavalos selvagens. Que sorte, exclamavam os vizinhos. E lá vinha a sentença: sorte ou azar, não sei.
O tempo foi passando e os cavalos selvagens iam sendo domados. Foi nessa tarefa que ele caiu e fraturou uma perna. Que azar, voltaram a repetir os vizinhos. Se foi ruim ou bom eu não sei, explicou ele. Semanas depois, rompeu uma guerra e todos os jovens do povoado tiveram de se alistar, menos ele com a perna quebrada. Foi sorte, comentavam em coro os vizinhos. Eu ainda não sei se foi sorte ou azar. Se foi ruim ou bom só o tempo dirá.
A vida é feita de sonhos, mas nem todos os sonhos se tornam realidade. E o destino prepara muitas surpresas. Num primeiro momento podemos passar da euforia para o desânimo. Inteligente é esperar. A situação muda a cada instante. E contra os fatos pouco adianta reclamar. Devemos dar tempo ao tempo e assimilar a nova situação. Não importa o que a vida fez de nós, mas o que nós fazemos com aquilo que a vida fez de nós. O que nos parece sorte pode transformar-se em azar. O que parece ruim pode trazer frutos bons.
Foi uma doença que ajudou Francisco de Assis escolher seu luminoso caminho. Foi um ferimento e uma batalha perdida que abriram os olhos de Inácio de Loyola. Foi uma tragédia familiar que levou Ângela de Foligno a modificar sua escala de valores. Eles souberam trabalhar esses acontecimentos. Na linguagem do mar, ajustaram suas velas diante da tempestade.
Para aquele que tem fé, que acredita em Deus, todos os acontecimentos, a partir dos mais negativos, têm alguma sinalização luminosa. Já o profeta Isaias fazia um chamamento à esperança: “Criai ânimo, não tenhais medo, nosso Deus vem para nos salvar!”. Nossa situação pode mudar de um momento para outro, mas Deus não muda. Tudo passa, mas Deus não passa. 
O poeta austro-germânico, Rainer Maria Rilke, escreveu em seu livro Histórias do Bom Deus: “Nunca diga que Deus não está num poema; Ele pode ser a última palavra”.

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